Paciente com Câncer Recebe Doação de Peruca

Eva compartilha sentimento ao receber uma peruca. “Vai além do empoderamento, significa respeito”
Por O Hoje
Data: 15/04/2024
Eva Taucci, jornalista 41 anos, recebeu o diagnóstico de câncer em 2023, desde então luta contra a doença

Desde que recebeu o diagnóstico de câncer no ano passado, a vida da jornalista Eva Taucci, de 41 anos, é marcada por desafios. "Receber o diagnóstico de câncer é uma situação devastadora, dá muito medo, muita insegurança, porque a sociedade julga como sentença de morte você receber um diagnóstico de câncer", comenta Eva, refletindo sobre o impacto inicial da notícia em sua vida.

Apesar do choque, a mulher diagnosticada com o Linfoma não-hodgkin de grandes células B primário de mediastino, adotou uma postura característica de uma jornalista investigativa, questionando seu médico sobre a doença e os tratamentos que teria que enfrentar. "Eu perguntei quais eram as minhas chances de cura", relembra, destacando sua determinação em compreender e enfrentar a situação de frente.

Após entender o quadro de saúde e começar os tratamentos, um novo desafio surgiu, talvez um dos mais difíceis e dolorosos. Eva precisava lidar com a perspectiva de perder o cabelo devido à quimioterapia. "É muito difícil a gente se ver no espelho sem o cabelo", compartilha.

O medo inicial se transformou em angústia quando seu cabelo começou a cair em tufos. “"Quando ele começou a cair, entrei em pânico e fiquei três dias sem mexer no cabelo. Ao andar pela casa e tocá-lo, os tufos se soltavam, o que me deixava muito apreensiva. Então, decidi prender o cabelo e mantê-lo assim por dois dias”, lembra.

Após três dias de agonia, Eva tomou uma decisão corajosa e raspou a cabeça, encontrando um alívio emocional na libertação da preocupação constante com a perda capilar. Após conhecer o projeto de confecção e doação de perucas do Salão de Beleza Lene House, a jornalista começou a utilizar as perucas como mais do que ‘simples acessórios’. Para ela, essas perucas representam muito mais. Além de restaurarem sua autoestima e beleza, tornaram-se símbolos de respeito próprio e dignidade.

Eva compartilhou que, ao usar as perucas, não apenas se sente bonita novamente, mas também evita os olhares de piedade e julgamento daqueles que não compreendem plenamente sua jornada. Assim, o uso das perucas proporciona não só um resgate da sua identidade visual, mas também uma sensação de normalidade em meio ao desafio enfrentado.

"Então, para mim, a peruca tem um significado que vai além do empoderamento, tem o significado do respeito", afirma Eva, destacando a importância de ser tratada como uma pessoa normal, mesmo durante o tratamento contra o câncer.

Diante dos desafios físicos e emocionais enfrentados, Eva Taucci continua sua jornada com coragem, determinação e um espírito resiliente, inspirando outros com sua história de coragem e empoderamento.

Jacqueline Andrade Amaral, Mestre em Psicologia e Presidente Estadual da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, tem uma parceria de longa data com a proprietária do salão de beleza, que se transformou em uma iniciativa poderosa de apoio aos pacientes com câncer.

A colaboração começou há alguns anos, quando o salão começou a receber doações de cabelo e transformá-las em perucas para pacientes em tratamento oncológico. Inicialmente ligada a uma instituição, a parceria agora é diretamente com o salão, localizado no Bairro Jardim América, em Goiânia.

A inspiração para o projeto veio de uma paciente que recebeu uma peruca doada e, tocada pelo gesto, decidiu retribuir doando seu próprio cabelo. Com isso, surgiu a ideia de reativar a iniciativa, e Jacqueline, presente no momento, abraçou a proposta.

Jacqueline destaca que o enfrentamento da alopecia – a perda de cabelo - é uma jornada altamente individual para os pacientes em tratamento contra o câncer e ressalta a importância de respeitar as escolhas individuais de cada paciente durante essa fase.

Para alguns pacientes, o uso de perucas pode ser um recurso essencial para manter a autoestima e a normalidade social durante o tratamento. A alopecia pode tornar as interações sociais difíceis, com muitos pacientes relatando sentimentos de desconforto e julgamento quando estão sem cabelo em público. Receber uma peruca pode significar mais do que apenas restaurar a aparência; pode significar a restauração da autonomia social e a capacidade de enfrentar o mundo com mais confiança.

No entanto, Jacqueline enfatiza que a escolha de usar ou não uma peruca é altamente individual e depende das preferências de cada paciente. “Alguns pacientes lidam bem com a alopecia e optam por não usar peruca, encontrando outras formas de expressar sua identidade e enfrentar o tratamento”, comenta.

O impacto emocional e psicológico das perucas é evidente nos rostos dos pacientes quando  recebem esses presentes. “Muitos expressam gratidão e alívio, relatando que as perucas lhes proporcionam uma sensação renovada de normalidade e confiança para enfrentar os desafios do tratamento e da vida cotidiana”, compartilha a especialista.

Jacqueline enfatiza o papel fundamental da peruca na restauração da autoestima e dignidade das pacientes que enfrentam a queda de cabelo como efeito colateral do tratamento de quimioterapia. Como presidente da Sociedade de Psico-Oncologia em Goiás, seu foco está no apoio emocional e na divulgação do programa, destacando a importância de oferecer suporte durante essa fase desafiadora da jornada do paciente com câncer. Sobre o projeto O projeto de confecção e doação de perucas tem sido amplamente apoiado pela comunidade, com doações significativas vindo de várias fontes, incluindo escolas que organizam campanhas de arrecadação de cabelo. Durante períodos de conscientização, como o mês de combate ao câncer, a mobilização e as doações tendem a aumentar, destacando a importância da divulgação e da conscientização sobre os benefícios dessas doações para os pacientes.

A divulgação do programa é realizada principalmente por meio das redes sociais e de boca em boca entre os pacientes. Um vídeo explicativo nas redes sociais do salão de beleza orienta as pessoas interessadas em como cortar e doar as mechas de cabelo. As doadoras podem cortar o cabelo em casa, desde que sigam as instruções específicas, ou podem levar as mechas diretamente ao salão.

Quanto ao tipo de cabelo que pode ser doado, Jacqueline esclarece que todos são bem-vindos, embora os cabelos naturais sejam preferidos. No salão, as mechas são analisadas e organizadas para a confecção das perucas.

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