Aparecida de Goiânia tem 64% das nascentes degradadas

Estudo elaborado pela Prefeitura fez o mapeamento e georreferenciamento de ao menos 305 nascentes no município. Dessas, cerca de 196 precisam de trabalho de recuperação
Por Jornal Daqui / O Popular
Data: 29/04/2024
Mais de 300 nascentes são mapeadas em Aparecida de Goiânia, a maioria se encontram degradadas. Na foto, geral do Córrego Galhardo. (Wildes Barbosa / O Popular)

A cada dez nascentes mapeadas em Aparecida de Goiânia, ao menos seis estão degradadas. O município localizado na Região Metropolitana da capital conta com pouco mais de 300 nascentes georreferenciadas, sendo que, destas, 196 estão em situação precária de preservação. Especialistas apontam que desmatamento, construções irregulares e descarte ilegal de resíduos às margens dos cursos d’água, falta de um sistema eficiente para drenagem urbana e de fiscalização são citados como causas para a degradação.

Na nascente do Córrego Galhardo, no Setor Colina Azul, a falta de preservação é visível. O olho d’água que se forma na área municipal está tomado por lixo variado. Vinte metros à frente, pneus, sapatos, garrafas e embalagens plásticas, além de restos de alimentos, tornavam impossível avistar a água abaixo. Para o geógrafo e gestor ambiental, e ex-secretário Municipal de Meio Ambiente, Juliano Cardoso, falta trabalho de limpeza e manutenção das nascentes de Aparecida.

Enquanto estava como titular da pasta no município, ainda em 2009, Cardoso conta que em conjunto com 21 profissionais, de uma equipe formada por biólogos, engenheiros ambientais, geógrafos e agrônomos, elaborou o levantamento de cerca de 300 nascentes. Conforme ele, pela realidade vivenciada, o cenário de degradação se estende a praticamente todas elas. “A vulnerabilidade de cada nascente é muito particular de cada região. Mas hoje pode-se dizer que pelo menos 80% estão em situação crítica (de preservação)”, diz.

O geógrafo cita que, além da conservação da mata ciliar, aspectos como o sistema de drenagem urbana e construções civis nas proximidades, processos erosivos e de assoreamento, devem ser levados em conta para definir o cenário de preservação de cada nascente. “Tínhamos pouco mais de 10 nascentes com boa qualidade nos parâmetros ambientais. Mas de lá para cá, a situação piorou. Bairros foram asfaltados, casas cimentaram seus quintais, e muitas das áreas se tornaram impermeáveis. É uma soma de fatores para avaliar se está realmente preservada.” E questiona: “A mata está conservada. Mas e o lixo lá dentro? E as galerias pluviais com rede de esgoto clandestina que jogam lá dentro?.”

O POPULAR também esteve no Córrego Pipa, no trecho que passa pelo Setor Recanto das Emboabas, e observou que a mata ciliar estava preservada. No entanto, em um trecho onde foi retirada a vegetação para uma construção civil, um processo erosivo se formava na encosta. Lixo de construção civil também era visível no local. Cardoso aponta ainda para a quantidade de espuma na água, que conta ser oriunda do descarte irregular de resíduos de residências e empresas.

Titular da 9ª Promotoria de Justiça da comarca de Aparecida de Goiânia, com atribuição em meio ambiente, o promotor Élvio Vicente da Silva comenta ainda que muitas nascentes foram extintas devido à intervenção antrópica no ambiente. “Algumas foram aterradas ou diminuídas para exploração econômica. Outras foram degradadas principalmente por depósito de resíduos de construção civil, outras por pisoteamento que provoca a impermeabilização do solo, fazendo com que as águas corram pela drenagem pluvial, não permanecendo no local (infiltrando). Tudo por falta de conscientização da população ou por falta de fiscalização do Poder Público”, pontua.

Silva pontua ainda sobre a ineficiência no sistema de drenagem urbana, que também causa degradação das nascentes. “A falta de dissipadores de água (bueiros) provoca diversas erosões em vários locais da cidade, inclusive nascentes. O que existe é um plano diretor de drenagem de água pluvial em Aparecida, mas que não é executado. E outro, complementar, deveria ser feito em conjunto com a capital, já que são cidades contíguas. E a cidade está em crescente desenvolvimento, quanto mais cresce, mais há a necessidade de novos projetos constantemente”, comenta.

O cenário de degradação das nascentes e matas ciliares em Aparecida de Goiânia também é elencado pelo titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), delegado Luziano de Carvalho. Conforme ele, a situação é crítica nos cursos d’água do município “Muito entulho, erosões, construções e invasões”, pondera. A reportagem também tentou contato com a titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) de Aparecida, Valéria Pettersen, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

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