Bike na contramão: como tornar as ciclovias de Goiânia mais seguras

Em 2023, Goiânia recebeu o título de quarta capital do país com maior número de bicicletas, totalizando 0,19 bicicletas por habitante, o equivalente a cerca de 280 mil
Por O Hoje
Data: 29/04/2024
“Pedalar se aprende, mas é necessário que alguém ensine como se comportar no trânsito”, Marcos Rothen, especialista em Engenharia de Transporte | Foto: : Leandro Braz/O HOJE

Em 2023, Goiânia  recebeu o título de quarta capital do país com maior número de bicicletas, totalizando 0,19 bicicletas por habitante, o equivalente a cerca de 280 mil. Esses dados são provenientes da mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), promovida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Mesmo com a designação, os ciclistas da cidade têm se deparado com diversos problemas, para além da carência de infraestrutura e segurança nas ciclovias, destacando-se principalmente a falta de respeito no trânsito.

Conforme anunciado em janeiro deste ano, Goiânia construiu aproximadamente 15,5 quilômetros de vias para bicicletas nos últimos quatro anos, aponta o  levantamento feito pela Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM). 

Atualmente, a cidade possui cerca de 129 quilômetros de infraestrutura destinada aos ciclistas, incluindo 56,8 quilômetros de ciclovias permanentes, 15 quilômetros de ciclofaixas e 40,72 quilômetros de rotas para bicicletas, além de 16 quilômetros de faixas que funcionam somente aos domingos e feriados.

Foram construídos 2 quilômetros de ciclovias, sendo 0,5 quilômetro na Rua 44 e 1,45 quilômetro em um trecho da Rua C-34, no Jardim América. Adicionalmente, foram implantados 11,8 quilômetros de ciclofaixas permanentes, sendo 5 quilômetros na Marginal Barreiro, 2,9 quilômetros em um trecho que conecta a T-63 à avenida dos Alpes, mais 1,9 quilômetro no Jardim Europa e 2,1 quilômetro na T6. O único trecho de ciclofaixas que funciona nos fins de semana e feriados criado nesse período foi o da T3, com aproximadamente 1,62 quilômetro.

O especialista em Engenharia de Transportes, Marcos Rothen, destaca a situação do tráfego na capital: “Enfrentamos um problema sério, o trânsito é extremamente caótico”, afirma. De acordo com ele, as intervenções são realizadas sem um planejamento adequado. Sendo assim, foram criadas algumas ciclovias e ciclofaixas, porém muitas delas são subutilizadas. 

As ciclovias foram criadas com o intuito de prevenir acidentes no trânsito e facilitar a locomoção de pedestres e ciclistas. Entretanto, os ciclistas mais experientes argumentam que essas vias não são adequadas para suas necessidades. Pois elas são voltadas para uso cotidiano e lazer, não para os ciclistas de alta performance. André Lacerda, ciclista experiente expõe o problema:  “Um ciclista mais treinado não utiliza essas ciclovias, pois elas possuem um limite de velocidade de 23 km por hora.”  

Lacerda pontua que os ciclistas profissionais que percorrem aproximadamente 500 a 600 quilômetros por semana, acabam se expondo a riscos ao optarem por pedalar nas margens das estradas devido aos limites de velocidade impostos nas ciclovias.

Rothen explica que os ciclistas não receberam orientações específicas, e não há um plano efetivo para instruir sobre as regras de trânsito. 

Em algumas regiões, as ciclofaixas quase não são utilizadas, sendo invadidas por carros; falta um plano detalhado para determinar onde e como a bicicleta deve ser realmente integrada no tráfego. “Pedalar se aprende, mas é necessário que alguém ensine como se comportar no trânsito”, finaliza. 

Os benefícios de pedalar

Para aqueles que estão exaustos dos congestionamentos de trânsito, porém ainda não se convenceram dos benefícios de adotar a bicicleta como meio de locomoção regular, aqui estão alguns pontos que podem auxiliar nessa escolha.

Primeiramente, destaca-se o contato com a natureza. A maioria das ciclovias em Goiânia conecta diferentes parques ou praças, como a rota que liga a Praça Universitária ao Zoológico, passando pela Praça Cívica, Bosque dos Buritis e Praça Tamandaré. Esse contato pode promover melhorias em nossa saúde, especialmente a mental.

Em tempos de alta inflação e o preço do litro da gasolina beirando os R$ 6,00, a bicicleta surge como uma alternativa ainda mais atrativa e econômica, de manutenção acessível. Ao analisar os benefícios de optar por pedalar em vez de utilizar o carro, como os custos diretos (combustível, IPVA, seguro, estacionamento e multas) e os indiretos (consultas médicas, nutricionista e mensalidade da academia), a diferença no bolso se torna bastante favorável. 

Isso nos leva ao segundo ponto, a diminuição do estresse e da ansiedade. Os engarrafamentos são frequentes em áreas movimentadas, o que contribui para o aumento do estresse nos condutores. Por outro lado, nas ciclovias, o percurso está sempre desobstruído. Dessa forma, muitos praticantes relatam que andar de bike contribui significativamente para reduzir o estresse, que é comum ao retornar para casa nos horários de pico.

Também há pessoas que enxergam como uma vantagem a oportunidade de realizar atividades físicas durante os deslocamentos do dia a dia. Enquanto os treinos em uma academia podem se tornar tediosos e repetitivos, pedalar ao ar livre, sob a luz natural, proporciona bem-estar e estimula positivamente. Além disso, há a questão da economia de combustível.

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