Carga tributária cai, mas gasto com juros cresce e chega a 25,7% da arrecadação

Demonizada pelo ultraliberalismo que impera em cercos círculos, a carga tributária recuou no ano passado, diante de um avanço nominal mais vigoroso experimentado pelo Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados mais recentes da Receita Federal.
Por O Hoje
Data: 19/04/2024

Na direção oposta, as despesas com juros dos governos cresceram com vigor, a despeito da redução os juros básicos, operada em ritmo exasperantemente lento pelo Banco Central (BC). Na soma de todos os governos – federal, estaduais e municipais –, a soma de todos os impostos, taxas e contribuições atingiu R$ 3,521 trilhões no ano passado, representando 32,44% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2022, a carga tributária do governo geral havia correspondido a 33,07% do total de riquezas gerado pela economia, chegando a algo ligeiramente inferior a R$ 3,334 trilhões.

Como percentual do PIB, o estudo da Receita aponta um recuo de 0,64 pontos percentuais, para o nível mais baixa desde 2020, quando a carga de impostos havia alcançado 31,08% por conta da redução de impostos realizada pelos governos como forma de compensar parcialmente os impactos negativos trazidos pela pandemia. Em valores nominais, o total de impostos arrecadados pela União, governos estaduais e prefeituras apresentou variação de 5,63% diante de uma receita adicional de quase R$ 187,784 bilhões entre os dois anos. Também em termos nominais, sem descontar a variação dos preços em geral na economia, o PIB havia crescido 7,70% (ou 2,90% em termos reais), agregando em torno de R$ 776,435 bilhões às riquezas do País. A diferença entre aqueles dois números explica a redução proporcional da carga de impostos pagos pelos brasileiros.

Escalada

Os juros totais pagos pelo governo em geral, no entanto, avançaram muito mais do que a carga tributária e o PIB, passando a corresponder a uma parcela crescente da arrecadação total. Nos dados do Banco Central (BC), os governos destinaram o equivalente a 6,62% do PIB para fazer frente a despesas com juros, qualquer coisa ao redor de R$ 718,294 bilhões em 2023, o que se compara a R$ 586,427 bilhões no ano anterior, em torno de 5,82% do PIB, o que significou um avanço de 22,49% igualmente a valores nominais entre os dois anos. A fatia dos juros no PIB aumentou 0,80 pontos percentuais, correspondendo a R$ 131,867 bilhões a mais. Num exercício matemático simples, a participação dos juros na carga tributária elevou-se 17,59% para 20,40%. O governo central passou a destinar R$ 614,548 bilhões para a conta dos juros em 2023, perto de 5,66% do PIB, crescendo 22,12% em relação a 2022, quando aquela despesa havia consumido R$ 503,234 bilhões (4,99% do PIB). Neste caso, os juros saíram de 22,88% da arrecadação total em 2022 para 25,74% no ano passado, como se pouco mais de um quarto de todas as receitas da União tivessem sido direcionados para honrar os juros da dívida, sustentando os ganhos de uma minoria dos brasileiros que participam do cassino dos juros altos.

Balanço

- O acirramento dos conflitos no Oriente Médio, anota a edição deste mês do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), pode mesmo favorecer o comércio exterior brasileiro diante de um “possível aumento de preços” das commodities. Mas há grande “senão”: a situação obviamente se complicaria exponencialmente caso ocorra um “alastramento dos conflitos envolvendo as grandes potências”. Ainda conforme o boletim, os juros altos nos Estados Unidos “tendem a desvalorizar a moeda brasileira”, com duplo efeito: maiores pressões sobre a inflação, por conta da alta do dólar, mas impactos mais positivos para as exportações.

- O conservadorismo continua sendo a tendência principal entre investidoras e investidores, segundo constata levantamento realizado pelo Santander em todo o País – Goiás incluído – entre 2022 e 2023 entre clientes do banco. O ciclo mais recente de cortes na taxa básica de juros não alterou o comportamento das mulheres quando se trata de alocar seus recursos em investimentos financeiros e parece ter reforçado o mesmo tipo de atitude entre os homens, embora circunstâncias conjunturais tenham exercido igualmente alguma influência. 

- A pesquisa mostra que as investidoras mantiveram 53% de suas carteiras aplicados em Certificados de Depósitos Bancários (CDB), Letras de Crédito do Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), títulos do Tesouro Direto e até na poupança, mesmíssimo percentual anotado um ano antes.

- Para Goiás, os números do banco mostram que houve mesmo uma elevação dos investimentos em renda fixa no período. Até 2022, aquele tipo de aporte respondia por 61% da carteira de investimentos das mulheres goianas, percentual elevado para 63% no ano seguinte. Em contrapartida, o volume de recursos alocados em fundos de investimento foi reduzido, proporcionalmente, de 11% para 7%, indicando um tipo de investidor mais cauteloso ainda do que na média do País.

- Esse tipo de reação, de tom nitidamente conservador e mais arisco à tomada de riscos, predominou também entre os homens, embora em percentuais ligeiramente mais baixos na compara com o gênero feminino. A parcela dos investimentos destinadas à renda fixa elevou-se de 50% para 52% entre 2022 e o ano seguinte. “Os dados mostram que as mulheres são mais disciplinadas em suas aplicações e, mesmo em anos desafiadores como o ano passado e o anterior, elas mostraram persistência”, diz Luciane Effting, executiva responsável pelo Santander AAA.

- Essa atitude mais cautelosa quando se trata de lidar com investimentos foi apontada igualmente pela sétima edição do Raio X do Investidor Brasileiro, realizada pela Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), indicando que as mulheres estão mais focadas em segurança financeira ao investir.

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