Crescem casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos

O anúncio do câncer de Kate Middleton, 42, a princesa de Gales, soou o alerta para um fenômeno que vem preocupando especialistas no Brasil e no mundo na última década: o aumento dos casos de câncer em adultos jovens
Por Diário da Manhã
Data: 27/03/2024
Levantamento da aponta que o número de pessoas com menos de 55 anos diagnosticadas com câncer colorretal quase dobrou nos Estados Unidos nos últimos dez anos

O anúncio do câncer de Kate Middleton, 42, a princesa de Gales, soou o alerta para um fenômeno que vem preocupando especialistas no Brasil e no mundo na última década: o aumento dos casos de câncer em adultos jovens. A doença foi descoberta após uma cirurgia abdominal realizada pela princesa, mas o tipo de câncer não foi divulgado.

Um levantamento da ACS (American Cancer Society) apontou que o número de pessoas com menos de 55 anos diagnosticadas com câncer colorretal quase dobrou nos Estados Unidos nos últimos dez anos.

No Brasil, monitoramento do Inca (Instituto Nacional de Câncer) indica que cólon e reto são a segunda área mais afetada por neoplasia, tanto para homens quanto para mulheres, ficando atrás apenas dos tumores de mama, nelas, e de próstata, neles. Dos 704.080 casos da doença registrados no país até julho de 2023, 45.630 (6,5%) foram na região colorretal.

O médico Daniel Musse, oncologista clínico da Oncologia D’Or, afirma que a literatura médica dos últimos 30 anos tem confirmado o crescimento do câncer em pacientes com menos de 50 anos e que alguns estudos indicam crescimento de até 80% nos casos deste grupo.

Os tipos mais presentes nessa faixa etária, segundo o médico, são os de intestino, seguidos pelos de mama, tireoide, melanoma, hematológicos (linfomas e leucemias) e colo de útero. As causas do aumento, contudo, não estão bem definidas.

“Ainda não há entendimento completo sobre o que está causando esse aumento dos casos em jovens. Essa população tem maior taxa de alterações hereditárias, que podem ser detectadas em testes no DNA, contudo os casos hereditários não são maioria”, reforça Musse.

Crescimento global

A médica Maria Ignez Braghiroli, oncologista clínica integrante do comitê de tumores do trato digestivo da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, afirma que essa tendência de aumento entre adultos jovens tem sido observada globalmente. “E, em se tratando de tumores do trato digestivo, o câncer de cólon é mesmo o protagonista”, diz a médica.

Braghiroli frisa que o número geral de casos de câncer vem declinando ao longo das décadas em outros grupos, mas que, para indivíduos abaixo de 50 anos, a curva é ascendente.

“Diversas instituições hoje recomendam que o rastreamento seja iniciado aos 45 anos para a população global, exceto em casos específicos de predisposição pessoal ou familiar [nos quais deve ser feito ainda mais cedo]”, aponta a oncologista.

Diagnóstico precoce é fundamental para conter avanço

O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento e aumenta significativamente as chances de sobrevivência do paciente. A ACS relata, entretanto, que apesar da queda da mortalidade de 3% a 4% para 2% na última década, o número de indivíduos norte-americanos diagnosticados com câncer colorretal em estágio avançado aumentou 8% entre 2000 e 2019.

E em pessoas com menos de 55 anos, o índice da doença subiu de 11% em 1995 para 20% em 2019, o que equivale a 1 afetado para cada 5 indivíduos nessa idade.

Mesmo considerando-se os fatores genéticos, causadores de neoplasias como a síndrome de Lynch, a suspeita é que fatores ambientais sejam os principais causadores desse aumento. Obesidade, sedentarismo e dieta com alto consumo de açúcar estão entre os fatores suspeitos de agravarem o problema no mundo.

“A pergunta [que devemos fazer] é qual a participação nesse aumento de fatores ambientais, como alimentação, sedentarismo e [uso] de outras substâncias”, destaca Musse.

Fatores de risco

A ACS estima que, dos 153.020 novos diagnósticos de câncer colorretal (CCR) feitos nos EUA em 2023, quase um terço (52.550) dos pacientes morrerá da doença, incluindo 3.750 indivíduos com menos de 50 anos.

Embora no Brasil o câncer de cólon e reto ainda seja maior entre mulheres (23.660 mil casos entre elas, para 21.970 entre eles em 2023), nos EUA a taxa de incidência do problema é maior entre homens (41,5 por 100 mil no grupo masculino para 31,2 por 100 mil no feminino).

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