Mercado prevê última alta da Selic no ano, alcançando 14,75%

Se confirmado, o movimento representará a sexta alta consecutiva e deverá encerrar o atual ciclo de aperto monetário
Por O Hoje
Data: 06/05/2025
Iano Andrade/CNI

Instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (BC) esperam que a taxa básica de juros, a Selic, seja elevada a 14,75% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para esta terça (6) e quarta-feira (7). Se confirmado, o movimento representará a sexta alta consecutiva e deverá encerrar o atual ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro do ano passado.

A projeção consta no Boletim Focus divulgado na segunda-feira (5). Na última reunião do Copom, realizada em março, a taxa Selic foi elevada para 14,25% ao ano, consolidando uma trajetória de sucessivos aumentos desde meados de 2024.

A expectativa de nova alta de 0,5 ponto percentual nesta semana reforça a estratégia do BC de conter as pressões inflacionárias em meio a um cenário de economia ainda aquecida. Desde junho do ano passado, quando a Selic estava em 10,5% ao ano, o Comitê iniciou uma série de aumentos, com um primeiro ajuste de 0,25 ponto percentual, seguido por elevações de 0,5 e três altas consecutivas de 1 ponto percentual.

Inflação persiste e pressiona política de juros

Apesar de sinais de moderação, o BC avalia que a atividade econômica segue aquecida e que tanto a inflação cheia quanto os núcleos — que excluem itens voláteis como alimentos e energia — permanecem elevados.

Para a economista Alessandra Campos, o aumento da Selic tem impacto direto sobre a realidade dos consumidores. “Aumento de juros aumenta a sua inadimplência, diminui os recursos dos brasileiros e, consequentemente, temos um aumento de dívidas e, possivelmente, de endividados”, afirma.

Campos também lembra que muitas empresas ainda enfrentam os efeitos da pandemia, especialmente aquelas que tomaram crédito nas fases mais recentes do Pronampe. “Já pegou com juros bem altos e muitos empréstimos vinculados à Selic. Então, a gente tem um aumento dos compromissos financeiros, do endividamento e da inadimplência, ao mesmo tempo que é necessário ter um controle da inflação.”

A Selic é o principal instrumento do BC para controle da inflação. Juros mais altos encarecem o crédito e reduzem o consumo, ajudando a conter o avanço dos preços. No entanto, a elevação da taxa também tende a inibir investimentos e dificultar o crescimento da economia, o que exige equilíbrio na condução da política monetária.

Segundo o Focus, o mercado financeiro para os anos seguintes projeta-se uma trajetória de redução gradual: 12,5% em 2026, 10,5% em 2027 e 10% em 2028.

Inflação ainda preocupa o mercado

A inflação, por sua vez, apresenta leve recuo nas projeções. A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 5,55% para 5,53% neste ano. Para 2026, a projeção segue em 4,51%. Já para 2027 e 2028, o mercado espera inflação de 4% e 3,8%, respectivamente.

Mesmo com a ligeira desaceleração, a estimativa para 2025 continua acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — ou seja, limite superior de 4,5%.

Em março, o IPCA subiu 0,56%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com forte influência dos alimentos. A inflação acumulada em 12 meses chegou a 5,48%, embora tenha desacelerado em relação a fevereiro, quando registrou 1,31%.

Crescimento do PIB deve ser moderado até 2028

As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) indicam crescimento de 2% em 2025, 2027 e 2028, com ligeira desaceleração para 1,7% em 2026. O número repete a estimativa já apresentada anteriormente pelo mercado, que vê um ritmo moderado para a economia brasileira nos próximos anos.

Campos pondera que mudanças no cenário nacional podem alterar o rumo da política de juros. “Se nós tivermos mais inserção de recursos dentro da economia, mais consumidores finais gastando, logicamente vamos ter aumento da inflação, e isso vai gerar um movimento do Banco Central.”

Ícone Mais Notícias
Esteja sempre atualizado sobre os principais acontecimentos