
Novo programa de crédito tem crescimento de 514% em julho

O montante de empréstimos consignados para trabalhadores com carteira assinada através do programa 'Crédito do Trabalhador', que utiliza parte do saldo do FGTS como garantia, já ultrapassou os R$ 17,2 bilhões neste mês de julho, um crescimento de 514% em relação ao volume registrado até o início de abril. Somente o Banco do Brasil já ultrapassou a marca dos R$ 5 bilhões. Apesar da grande publicidade em torno da nova linha, especialistas advertem que é preciso cuidado na hora de acessar o empréstimo, pois as taxas estão elevadas.
Isso porque os juros médios praticados estão bem acima da média praticada em consignados dos bancos com desconto em folha para servidores públicos e aposentados e até para funcionários de empresas privadas. Enquanto a taxa média das linhas CDC ficou em 2,12% nos bancos em junho, os juros médios praticados no Crédito ao Trabalhador estão em 3,55%. O Ministério do Trabalho mencionou preocupação com as taxas praticadas.
Um levantamento do Banco Central mostrou que os juros do crédito consignado variam de 2,08% a 6,88%. No Banco do Brasil (BB), por exemplo, a média no consignado é de 3,17%. A instituição já ultrapassou a marca de R$ 5 bilhões de contratações no programa.
Foram realizadas cerca de 450 mil operações, em mais de 5 mil municípios brasileiros, com valor médio de R$ 10,4 mil por empréstimo. "O Crédito do Trabalhador é uma revolução no mercado de crédito brasileiro, promovendo inclusão financeira e melhores condições de empréstimos aos trabalhadores", afirmou a presidenta do BB, Tarciana Medeiros.
Segundo ela, o banco tem o compromisso de oferecer condições vantajosas nos empréstimos, com propostas personalizadas de acordo com as necessidades de cada cliente. "Temos orgulho dos resultados alcançados, que combinam a assessoria financeira feita pelos funcionários com soluções de inteligência que integram um conjunto de dados e informações de relacionamento com empresas e trabalhadores, que propiciam ofertas personalizadas", disse.
Para Tarciana, o trabalhador tem acesso a empréstimos com melhores condições, possibilitando a liquidação de dívidas com taxas mais elevadas, com redução da prestação mensal e alívio do orçamento familiar.
O dinheiro pode ser utilizado para organização financeira, consolidação de dívidas, reforma de casa, emergências médicas, imprevistos ou qualquer outra necessidade. A expectativa é que essa flexibilidade de uso proporcione mais facilidade no planejamento financeiro. O desenho e a construção da nova solução buscou, segundo o governo federal, democratizar o acesso ao crédito no país.
Mas o economista Marcus Antônio Teodoro, mestre em Finanças e autor do livro Erros e Acertos na Gestão do Dinheiro, lembra que o FGTS rende algo próximo de 6% ou 7% ao ano, enquanto os empréstimos têm taxas anuais de 60% a 70%. "O certo seria que este crédito tivesse taxa menor que o rendimento do FGTS", destaca. Por isso, ele acredita que este ainda seja um crédito consignado ruim, por ter taxa bem maiores que as do consignado comum.
"Isso é mais uma propaganda política, sem resultado bom na prática para o trabalhador", avalia o economista. Para ele, recorrer ao crédito só é válido para emergências, como um problema de saúde ou para pagar uma dívida com um juro bem maior. "Os bancos estão oferecendo uma taxa menor que a do crédito pessoal, mas muito alta diante do consignado tradicional e em relação ao Fundo de Garantia", adverte.
Para Marco Antônio Loureiro Neto sócio e líder da XP no Centro-Oeste, o crédito consignado do trabalhador pode ser uma boa alternativa quando é usado com responsabilidade. "Quando uma pessoa faz qualquer tipo de dívida deve ter objetivos muito claros", alerta. Isso acontece, por exemplo, quando se tem uma dívida com taxas mais elevadas, como de cartões de crédito, e contrata-se o crédito para quitá-la com uma taxa menor. "O problema é quando o trabalhador passa a contar com isso como complemento de renda", adverte.
Daniel Montenegro, gerente de Crédito e Cadastro do Sicoob em Goiás, informa que a taxa ofertada para cooperados ou trabalhadores começa em 1,87%, sendo variável. Para acessar, é preciso estar elegível à política de crédito da instituição, o que já é possível conferir no cadastro feito no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital (CTPS). Em caso positivo, o Sicoob entra em contato com a pessoa para oferecer o crédito via CTPS ou pelo aplicativo do banco.
Montenegro lembra que o trabalhador recebe as ofertas de crédito de várias instituições em até 24 horas. "Funciona como um leilão de taxas mesmo", destaca. Quem já tem um consignado ativo não consegue contratar porque o sistema está em fase de atualização, em processo de migração para a base da CTPS. A medida provisória (MP) fala que os contratos consignados da base anterior a ela são facultativos à renegociação.
Comparações
Mas a taxa tem de ser inferior ao contrato vigente. Por isso, o gerente do Sicoob alerta que o trabalhador deve comparar as taxas. "A MP deu prazo de até 120 dias, a partir da data da publicação, para concluir a migração dos contratos para a CTPS digital, mas as instituições estão encontrando dificuldade para concluir o processo antes do tempo estipulado", afirma.
Para Montenegro, o crédito sempre é benéfico para quitar outra dívida com taxa de juros maior ou fazer algum financiamento que não pode esperar, mas sempre com objetivo de buscar uma taxa menor. "Isso veio de encontro ao propósito do Sicoob de conectar pessoas para promover justiça financeira. Nossa taxa de juros é muito mais atrativa que as demais instituições financeiras. O objetivo é acessar um público maior", garante. Ele concorda que algumas instituições ainda praticam taxas muito elevadas, diante da preocupação com o endividamento, pois a MP permite a contratação de até nove empréstimos que comprometam até 35% da renda líquida.
O banco Itaú informou que os clientes que desejarem contratar o Crédito do Trabalhador poderão acessar a solução de maneira rápida e segura, iniciando pelo aplicativo CTPS. "Ao optar pela oferta do Itaú, o cliente é automaticamente migrado para o Superapp do banco para a finalizar a contratação. Além disso, a comunicação através do WhatsApp auxiliará na jornada", garante.
De acordo com o banco, a novidade amplia o acesso ao crédito consignado, oferecendo mais autonomia, agilidade e conveniência ao cliente, pois a parcela é debitado na folha de pagamento do trabalhador, proporcionando segurança e praticidade para quem contrata. "Nosso foco é oferecer um atendimento de excelência, com suporte contínuo e soluções personalizadas para garantir a melhor experiência", ressalta Alexandre Borin, diretor de Empréstimos Pessoa Física no Itaú Unibanco.
Mais Notícias
Esteja sempre atualizado sobre os principais acontecimentos


China escolhe Goiás para investir
Estado já tem 253 negócios de capital chinês ou filiais de empresas, em investimentos que vão desde a instalação de indústrias até grandes obras de infraestrutura Saiba mais
Novo programa de crédito tem crescimento de 514% em julho
Direcionada para facilitar acesso do trabalhador, modalidade chega a R$ 17,2 bi, mas juros médios ainda altos são criticados por especialistas Saiba mais