Tarifa de Trump ameaça exportações goianas e pode afetar PIB do Estado

Nova alíquota de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelos EUA, deve atingir setores-chave do agronegócio goiano, como carne bovina e celulose
Por O Hoje
Data: 11/07/2025
Federações cobram ação estratégica do governo brasileiro para evitar prejuízos à economia goiana e defendem negociação diplomática com os Estados Unidos Foto: Divulgação/Secom-GO

A nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo governo dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump, acendeu um alerta vermelho para o setor produtivo em Goiás. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto de 2025, poderá atingir duramente setores estratégicos do agronegócio e da indústria goiana, com impacto direto sobre o comércio exterior, os investimentos e até mesmo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.

A decisão norte-americana se soma a tarifas já aplicadas em março deste ano,  25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio e amplia o leque de produtos brasileiros sujeitos à sobretaxa. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), áreas como agroindústria, mineração e autopeças estão entre as mais vulneráveis à perda de competitividade. Estimativas preliminares da entidade apontam para uma possível retração de até 15% no fluxo comercial entre Goiás e os Estados Unidos.

“Taxações adicionais de 50% praticamente inviabilizam as exportações de produtos brasileiros para os mercados norte-americanos”, alerta Enio Jaime Fernandes Júnior, 2º vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Segundo ele, o impacto será sentido de forma mais severa em produtos como celulose, suco de laranja, açúcar, café e carne bovina, todos com forte presença nas exportações do Centro-Oeste.

Para Fernandes, os reflexos da medida vão além do setor exportador, afetando também o crédito de todas as pessoas, com a menor entrada de dólares no Brasil, a taxa de juros será mantida elevada por mais tempo, o que freia o consumo e os investimentos. O dirigente lembra ainda que o dólar tende a se valorizar, pressionando a inflação e encarecendo os custos de produção.

Apesar do cenário adverso, Enio acredita que há espaço para reversão, após Trump já ter recuado medidas semelhantes com outros países. “Ele foi extremamente rígido com o Canadá, depois voltou atrás. Trump foi também extremamente duro com o México, depois voltou atrás. E também ele foi extremamente duro com a China e depois voltou atrás. Colômbia é um exemplo. Ou seja, eles são exemplos que isso pode ser revertido”, sugere.

Na avaliação da Fieg, a gravidade da medida exige ação coordenada entre o governo federal, governos estaduais e o setor produtivo. Em nota técnica divulgada nesta quinta-feira (10), a entidade propôs a diversificação de mercados, compensações fiscais para setores afetados e a manutenção de canais de diálogo com o governo americano como alternativas para mitigar os impactos da nova tarifa.

Segundo o documento, a relação comercial com os Estados Unidos é vital para o Brasil. Já que o país norte-americano é o segundo maior parceiro comercial, com US$ 78 bilhões em transações em 2024, e o maior investidor estrangeiro no Brasil, com estoque superior a US$ 156 bilhões.

Goiás, especificamente, pode sentir com mais força os efeitos da medida, segundo Fernandes. Embora milho e soja, principais produtos do agronegócio goiano, não sejam afetados diretamente, produtos como carne bovina e celulose estão entre os alvos da nova alíquota, já que são setores relevantes para a economia do estado e que empregam milhares de trabalhadores.

A nota da Fieg também adverte que a política tarifária dos EUA pode gerar um efeito dominó, levando outros países a adotarem posturas protecionistas. Nesse contexto, a articulação internacional ganha ainda mais importância. A entidade recomenda a criação de fóruns específicos para diálogo técnico com empresas impactadas e a construção de estratégias multilaterais com outros países igualmente afetados.

Enquanto as medidas não entram em vigor, o setor produtivo acompanha com atenção os desdobramentos diplomáticos. A expectativa é de que, assim como em episódios anteriores, o governo norte-americano possa rever sua posição mediante negociação.

Para Goiás, os próximos meses serão decisivos. A depender da condução política e diplomática do tema, o estado pode evitar perdas mais profundas – ou assistir à retração de uma fatia importante de sua economia.

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