Sem sacos de lixo, trabalho de garis em Goiânia vira enxugar gelo

Comurg reconhece escassez e, sem citar prazo, diz que regularização depende de licitação. Equipes perdem serviço realizado
Por Jornal Daqui / O Popular
Data: 10/04/2025
Sem sacos para acondicionamento, lixo de varrição na Avenida Goiás é deixado no canteiro central da via (Diomício Gomes / O Popular)

Sem sacos de lixo fornecidos aos servidores da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), os serviços de limpeza na capital têm sido comprometidos. Profissionais que atuam na varrição manual citam que o trabalho está sendo feito para "enxugar gelo", pois, sem o material, os resíduos coletados são empilhados em um trecho da via pública e ali permanecem, sendo arrastados pela chuva e pelo trânsito de veículos. A escassez do material tem ocorrido desde o início do ano, contudo, também era recorrente na gestão anterior do então prefeito Rogério Cruz (SD).

Ao POPULAR , oito servidores que atuam tanto na varrição quanto na roçagem confirmaram a falta do material. Por conta disso, os resíduos são acumulados em um espaço específico e aguardam pela rota de coleta feita pelo Consórcio Limpa Gyn. Mas, sem estarem acondicionados em sacos plásticos, não são removidos pelas equipes da terceirizada -- responsável pela coleta de lixo, seletiva e varrição mecanizada. Até mesmo a grama cortada acaba permanecendo, por vezes, nos locais onde foi feito o serviço. Conforme os profissionais, a reclamação dos moradores é frequente diante da prática.

A Comurg reconhece a falta dos sacos plásticos para a execução dos trabalhos. Em nota ao POPULAR , diz que "a gestão anterior da empresa deixou a diretoria operacional" sem o material e, sem citar prazo, alega que "a regularização do fornecimento de equipamentos e insumos seguirá processos legais e com respeito ao dinheiro público". "Enquanto isso, as equipes operacionais têm se esforçado para manter o trabalho de varrição, enquanto as equipes de coleta seguem logo atrás, com uso de equipamentos disponíveis, para minimizar os transtornos à população", complementa.

No dia 27 de março, foi aberto o pregão eletrônico do tipo menor preço por item para aquisição de 101,7 mil fardos com cem sacos plásticos biodegradáveis em cada, com fornecimento por 12 meses. O valor total estimado, contudo, é sigiloso. Conforme o edital, "tais materiais são utilizados para o ensacamento de resíduos dos serviços constantes no contrato (com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana), quais sejam: catação manual, capina e raspagem, limpeza de espaços e realização de feiras e outros eventos, poda de gramados, e manutenção de praças a canteiros ornamentais".

O montante maior é justamente utilizado na varrição e na catação manual. Do total de 8,4 mil pacotes utilizados por mês, 4,9 mil são para o recolhimento de resíduos da varrição manual e 1,3 mil para a catação manual. Outros 893 são destinados à limpeza de espaços e realização de feiras e demais eventos, além de 861 para poda de gramados e manutenção de praças. O restante, de 462 fardos, vai para capina e raspagem.

Ainda conforme o documento, "a contratação para o fornecimento de material justifica-se pela ausência de contratos ativos para suprimento do item, decorrente do encerramento do contrato 047/2024, e pela revogação dos pregões eletrônicos, 002/2024 e 010/2024, por recomendação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO)". O POPULAR mostrou em julho passado que o órgão ministerial recomendou à Comurg que não assinasse o contrato de R$ 12,84 milhões para a compra de 200 mil pacotes de sacos de lixo, cujo fornecimento seria pelo prazo de 24 meses, por suspeita de fraude na licitação.

O contrato anterior, assinado em janeiro de 2023, foi cancelado após a empresa ganhadora, a Comercial J. Teodoro, ter sido alvo de uma operação policial por suspeitas de fraude na companhia e na Prefeitura. Logo após a primeira tentativa de pregão eletrônico, em dezembro passado, o MP-GO também recomendou a revogação de outra licitação com a mesma finalidade, desta vez pelo prazo de 12 meses e com valor sigiloso.

Responsável pelo recolhimento dos sacos de plástico com resíduos da varrição nas vias públicas e de outros serviços prestados pela Comurg, o Consórcio Limpa Gyn diz que "se os responsáveis pelo ensacamento dos detritos das vias públicas não acondicionam a sujeira advinda da varrição em sacos para serem recolhidos, a coleta de lixo ficará comprometida". Dessa forma, "o consórcio não pode executar seu serviço, que é coletar o lixo devidamente ensacado", acrescenta, em nota.

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