A rotina de motoristas e entregadores de aplicativo em Goiânia deve passar por mudanças nos próximos dias. Isso porque câmeras com tecnologia 360º começaram a ser instaladas em pontos estratégicos da cidade, com a capacidade de identificar automaticamente o uso de celular ao volante — o que pode resultar em multas imediatas para os condutores.

A medida tem como objetivo reforçar a fiscalização sobre uma infração que já é prevista pelo Código de Trânsito e monitorada pelo Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO): o uso do celular enquanto dirige.

Embora todos os motoristas possam ser afetados, a nova fiscalização deve impactar principalmente os profissionais que dependem do celular para trabalhar — como é o caso dos motoristas e entregadores de aplicativo, que utilizam o aparelho para receber corridas, consultar rotas e manter contato com os clientes.

A recente instalação das câmeras tem gerado críticas. Para o engenheiro civil Leandro Vieira, a medida não representa uma fiscalização justa e pode afetar diretamente quem já sofre com os desafios do trânsito na capital.

“Na minha opinião, essa fiscalização ficou muito ruim. Não é justa com os motoristas. Muitas vezes, estamos parados no trânsito e precisamos usar o celular para resolver questões de trabalho ou responder uma mensagem. O trânsito de Goiânia não ajuda. A gente não consegue se deslocar de forma eficiente, e isso acaba exigindo que a gente utilize o celular em momentos de parada”, afirma.

Segundo Leandro, a dinâmica do dia a dia, especialmente para quem atua na área de engenharia e precisa coordenar equipes, exige comunicação constante — algo que, segundo ele, a nova fiscalização desconsidera. “Passar duas horas dirigindo sem comunicação é inviável. Às vezes, preciso direcionar uma equipe para um local, mandar um funcionário para outro.

Se eu tiver que esperar chegar ao escritório para fazer isso, não consigo dar conta das demandas”, explica.

Vieira também questiona a real intenção por trás da medida. “Responder mensagens quando o carro está parado no semáforo é diferente de dirigir mexendo no celular. Eu entendo que é preciso segurança, mas, da forma como está sendo feita, parece mais um pretexto para arrecadação. Não vejo justificativa plausível”, completa.

De acordo com o secretário de Engenharia de Trânsito da capital, Tarcísio de Abreu, qualquer movimento com o aparelho será considerado infração.

“Se o motorista perde 5 segundos olhando o aparelho a 80 km/h, ele percorre cerca de 100 metros sem atenção ao trânsito. Isso representa um grande risco”, afirmou o secretário.

A medida, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), tem o objetivo de aumentar a segurança nas vias e reduzir o número de acidentes causados por distrações ao volante.

Já para Cleyton Junio Xavier, de 20 anos, que trabalha como motoboy e office boy em Goiânia, a instalação das câmeras 360º para flagrar o uso de celular ao volante pode representar um avanço importante na segurança do trânsito. Mesmo sendo diretamente afetado pela medida, ele acredita que a tecnologia pode ajudar a salvar vidas.

“O uso do telefone atrapalha bastante no trânsito, de todas as maneiras. Mesmo quando é só para o trabalho, ele ainda representa um risco. Um segundo de distração pode custar a vida. Por isso, acho que a galera precisa se conscientizar mais e evitar usar o celular, a não ser quando for realmente necessário, como para o GPS”, defende. Cleyton conta que já adotou práticas mais seguras na rotina como entregador de aplicativo.

“No meu caso, não me atrapalha em nada, porque eu já tenho o hábito de parar a moto para mexer no celular. Mesmo para aceitar uma corrida ou pegar um endereço, eu prefiro parar, analisar com calma e depois seguir. Isso me protege”, explica.

Ele também cita recursos tecnológicos que ajudam na condução segura. “Uso um aplicativo de GPS que funciona com a tela bloqueada. Ele mostra apenas o caminho, sem permitir que eu interaja com o celular. Isso ajuda bastante na concentração e torna o trânsito mais seguro para todos.” Ciente dos riscos e dos dados crescentes de acidentes causados por distração, o jovem é direto: “Espero que essas câmeras façam efeito. O número de acidentes por causa do celular é enorme. Se as pessoas souberem que podem ser multadas a qualquer momento, talvez pensem duas vezes antes de se arriscarem. E isso pode fazer a diferença entre chegar bem ou não chegar.”