Ex-presidente da Goinfra diz ser alvo de injustiça e defende contrato

Em depoimento, Vissotto afirma que atos tinham respaldo da procuradoria da agência e que não havia impedimento legal para contratação
Por O Popular
Data: 31/01/2025
Ex-presidente da Goinfra, Lucas Vissotto: não era seu papel fiscalizar cada obra contratada (Fábio Lima / O Popular)

Em depoimento de cerca de 1 hora na tarde de quinta-feira (30), na Delegacia Estadual de Combate à Corrupção (Deccor), o ex-presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Obras (Goinfra) Lucas Vissotto negou irregularidades no processo de contratação da Prime Construções e se disse alvo de "grande injustiça" ao ser preso na Operação Obra Simulada .

O ex-presidente afirmou ter sido gestor de contratos que somam cerca de R$ 30 bilhões como servidor de carreira do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e que nunca foi alvo de qualquer procedimento ou investigação. O contrato com a Prime foi de R$ 28 milhões, com suspeitas de desvios de R$ 10,4 milhões , segundo a Deccor.

Ao final do depoimento, Vissotto se emocionou ao comentar estar distante de um filho especial. Preso na terça-feira (28) , quando a operação foi deflagrada, Vissotto está na Delegacia Estadual de Capturas (Decap) e foi levado à Deccor na tarde de quinta para o depoimento.

O ex-presidente também ressaltou que todos os seus atos tinham respaldo da procuradoria da Goinfra e que não havia nenhum impedimento legal para o contrato e o aditivo fechados com a Prime. Ele afirmou ter sido apenas responsável pela assinatura do contrato e negou que houvesse parecer da Advocacia Geral da União (AGU) contrário à adesão à ata do Exército, como aponta o inquérito.

Quanto à execução dos serviços, medições e autorizações de pagamento, o ex-presidente afirmou que não era seu papel acompanhar de perto cada fiscalização e que o trabalho era feito por gestor e fiscal do contrato. Alegou que a Goinfra tinha centenas de frentes de trabalho.

O advogado Marcelo di Rezende, que atua na defesa de Vissotto, disse que o depoimento foi "o mais esclarecedor possível" e que não acredita em pedido de prorrogação da prisão temporária, de 5 dias, que vence no sábado (1º). "O depoimento foi bem completo e técnico. Ele deu uma aula sobre os processos de contratações neste setor", afirma. "É uma pessoa supercapacitada, que geriu contratos muito maiores, que tem doutorado, pós-doutorado na área. Para se ter ideia, ele nunca recebeu um empreiteiro enquanto esteve na Goinfra", completa o advogado.

Outras prisões

Nesta quinta, dois alvos de mandado de prisão temporária que não haviam sido localizados na terça se apresentaram à polícia: o empresário Marcus Emmanoel Chaves Vieira , administrador da Prime, compareceu ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) da Polícia Civil do Distrito Federal; já a ex-servidora da Goinfra Thayanna Torres Avelar Nasser da Veiga se entregou na Deccor-GO e também foi levada à Decap.

Thayana foi líder de Área na Gerência de Apoio Administrativo e Logístico do órgão estadual e foi fiscal do contrato com a Prime Construções.

Já Marcus Emmanoel é apontado no inquérito como "sócio oculto" da Prime e o proprietário de fato da empresa. Ainda segundo a polícia, ele tem participação societária em várias empresas do "grupo econômico investigado". Ele deve ser ouvido por videochamada nesta sexta-feira (31), segundo a defesa, que também nega irregularidades no contrato.

"Ele não estava foragido, mas em viagem de negócios e se apresentou espontaneamente", disse o advogado Alexandre Lourenço, que representa o empresário e a Prime. A operação havia prendido na terça-feira a mulher de Marcus Emmanoel, Cíntia Maria Ataides Vieira. A ex-mulher Rosana Crisóstomo Ribeiro, o filho dela, Weslley Crisóstomo Nogueira da Silva e o filho de Marcus e Rosana, Marcus Emmanoel Chaves Vieira Júnior, também foram alvos de mandados de prisão, mas não localizados.

A Prime tem como proprietário, conforme registro na Receita Federal, o empresário José Francisco Alves Pereira, também alvo de mandado de prisão e não localizado. Há expectativa de que ele também se apresente à PC-DF nos próximos dias.

Depoimentos

O ex-diretor Gestão Integrada da Goinfra Thiago Carim Bucker também foi ouvido na Deccor na manhã de quinta-feira, quando negou irregularidades.

Marcelo di Rezende, que também o representa, fez críticas às prisões, afirmando que todos os presos estavam cientes das investigações e se mostravam dispostos a prestar esclarecimentos. O delegado Danilo Victor, responsável pelo inquérito, afirmou que foi "estratégia de investigação" não ouvir os envolvidos antes das medidas cautelares.

As investigações começaram em abril do ano passado, quando seis servidores da Goinfra foram exonerados diante de suspeitas de irregularidades na execução do contrato, de manutenção e conservação de prédios sob a responsabilidade do órgão, incluindo a própria sede, os palácios Pedro Ludovico Teixeira e das Esmeraldas, postos policiais e aeródromos.

A PC-GO instaurou o inquérito a partir de inspeções feitas pela Controladoria Geral do Estado (CGE) e a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra). Segundo a apuração, a Prime recebeu R$ 14,5 milhões, mas executou serviços que somariam apenas R$ 4,06 milhões.

As inspeções apontam suspeitas de superfaturamento, pagamentos antecipados por serviços não realizados e outras irregularidades na execução. O inquérito indica que, em alguns casos, houve demolição da unidade predial apenas para justificar a emissão de nota fiscal e os pagamentos. Além disso, a polícia investiga lavagem de dinheiro, diante de supostos repasses da Prime para outras empresas apontadas como pertencentes ao mesmo grupo.

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