Atendimento infantil em Goiânia ainda enfrenta desafios

No Cais Cândida de Morais, O POPULAR encontrou médico destinado às crianças assistindo também adultos. Já no Cais Campinas, pacientes não conseguiam acessar exame de sangue
Por Jornal Daqui / O Popular
Data: 23/01/2025
Cais Finsocial, na região noroeste de Goiânia: unidade passa a ter atendimento exclusivo para crianças (Wesley Costa / O Popular)

Dez dias depois do início do atendimento infantil ter sido ampliado para todas as unidades de saúde de urgência de Goiânia, o serviço ainda enfrenta desafios. Nesta terça-feira (21) e quarta-feira (22), a reportagem percorreu as oito unidades que não tinham o serviço e passaram a disponibilizá-lo. Em uma delas, o Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Cândida de Morais, o clínico destinado ao atendimento exclusivo de crianças também atendia adultos. No Cais Campinas, exames de sangue não estavam sendo realizados, o que fez com que os pacientes tivessem de se deslocar para outras unidades.

O prefeito Sandro Mabel (UB) anunciou a chegada do atendimento infantil em todas as unidades de urgência na última sexta-feira (17). O POPULAR já havia adiantado, na edição de 3 de janeiro, que o serviço, que já existia em cinco unidades de urgência, chegaria a mais oito locais. Os moradores da região leste, atendidos pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Novo Mundo e pelo Cais Amendoeiras, são alguns dos principais beneficiados pela ampliação.

A presença de atendimento infantil nas unidades de urgência espalhadas pela capital é crucial para diminuir o tempo de resposta para os casos graves. No dia 13 de janeiro, data em que o atendimento infantil começou em todas as unidades de urgência de Goiânia, uma menina, de 2 anos, que foi mordida por um pitbull , foi atendida na UPA Jardim Novo Mundo. A unidade é a mais próxima da casa dela, que mora no Conjunto Riviera.

"Trazida pela mãe, chegou com muito sangue e perfurações na região do crânio, com exposição de massa encefálica", detalha José Macêdo, responsável técnico médico da UPA Novo Mundo. Diante da gravidade do caso, a menina foi estabilizada por um clínico com experiência em atendimento infantil, recebeu medicação para dor e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado. "Chegou em menos de dez minutos", contou Macêdo. A menina foi encaminhada para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), onde se recupera em uma unidade de terapia intensiva (UTI).

Nesta terça, a UPA Novo Mundo fez 17 atendimentos ao público infantil. A reportagem esteve no local durante a tarde daquele dia e a faxineira Kelly de Sousa, de 42 anos, aguardava atendimento para a filha, de 8, que estava com dor de ouvido. Ela se consultou com um médico generalista. No mesmo dia, a estudante Paula Fernanda Torres Lima, de 27 anos, também conseguiu atendimento para o filho, de 4 anos, no Cais Finsocial, também com um médico generalista. Ele estava com uma coceira no corpo. "Foi bom. Eu moro aqui do lado (do Cais Finsocial) e antes eu tinha de descer lá para o Cais Campinas", detalhou.

Cais Campinas

Não são todos os pais que pensam como Paula. Mesmo morando no Jardim Novo Mundo, a jovem Vanessa Fernanda Cavalcante, de 26 anos, preferiu levar a filha, de 1 ano, para o Cais Campinas do que para a UPA Novo Mundo. O motivo foi o desejo de que a bebê, que sofre com vômitos e diarreia, fosse atendida por um pediatra. Ela foi até a unidade pela primeira nesta terça. Depois de algumas horas aguardando em uma recepção cheia, a filha de Paula foi atendida e medicada. "Cheguei por volta de 18 horas e saí 23 horas. Demorou, mas menos do que antigamente. Já vim para cá às 17 horas de um dia e sai às 5 horas do outro", contou Vanessa.

Nesta quarta, a bebê voltou a apresentar os mesmos sintomas e Vanessa retornou com ela para o Cais. Desta vez, ela foi atendida rapidamente. Porém, Vanessa precisou se deslocar até o Cais Vila Nova, a cerca de cinco quilômetros de distância, para conseguir que a filha fizesse um exame de sangue, já que, nesta quarta, o Cais Campinas não estava realizando este tipo de exame. Como chovia, Vanessa precisou solicitar uma corrida em um aplicativo de transporte de passageiros para ir de uma unidade para a outra. "É complicado. Já fica caro vir para cá de Uber e agora ainda tem isso. Vou lá (para o Cais Vila Nova) fazer o exame para descobrir o que ela tem", disse.

Reportagem do Bom Dia Goiás, da TV Anhanguera, veiculada nesta terça, mostrou que diversos pais que procuraram atendimento em outras unidades de saúde acabaram sendo encaminhados para o Cais Campinas. Das oito unidades de saúde visitadas pela reportagem nos últimos dois dias, em apenas uma, o Cais Cândida de Morais, não foi encontrado um profissional dedicado exclusivamente para o atendimento de crianças e adolescentes. Uma servidora do local, que preferiu não se identificar, ainda alertou para o fato de, além do médico, as crianças atendidas ali também estarem dividindo com os adultos a sala de medicação. "Um perigo. A sala cheia de gente tossindo e elas (crianças) com o sistema imunológico mais frágil", apontou.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse "que podem ocorrer falhas pontuais na escala, mas que a pasta tem assegurado que as crianças e adolescentes recebam atendimento médico de forma ágil e próxima da residência da família" e que "o dimensionamento médico para o atendimento a crianças e adolescentes será reavaliado em 60 dias e poderá sofrer alterações de acordo com a demanda de cada unidade de saúde."

A pasta ainda comunicou que no Cais Cândida de Morais, devido à baixa demanda, o médico passou a atender também adultos. Sobre a falta de exames de sangue no Cais Campinas, a pasta não enviou resposta. A secretaria também não disponibilizou o total de crianças que já foram atendidas nos primeiros dias de ampliação do serviço na capital.

Diferença entre generalista e pediatra causa confusão

Em pelo menos três das oito unidades de urgência de Goiânia visitadas pelo POPULAR nesta terça-feira (21) e quarta-feira (22), a diferença entre um médico generalista e um pediatra causou confusão entre os usuários da rede municipal. A reportagem presenciou servidoras explicando a distinção para os pais no Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Bairro Goiá, Cais Campinas e Centro Integrado de Atenção Médico Sanitária (Ciams) Novo Horizonte.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os médicos disponibilizados com a expansão do atendimento infantil são "clínicos gerais capacitados para atendimento de urgências pediátricas e com experiência na assistência à saúde infantil" e "os casos de maior gravidade são encaminhados às unidades de referência para cada tipo de atendimento". A pasta ainda reforçou que "a ação visa ampliar o acolhimento e assistência às crianças e adolescentes, além de evitar que os pais precisem percorrer longas distâncias em busca de atendimento médico para seus filhos."

Atualmente, a SMS tem um edital aberto para o credenciamento de pediatras para atuação em urgências. Entretanto, mesmo com o documento garantindo um pagamento para os pediatras acima do que é ofertado para os generalistas, a adesão está baixa. "A justificativa (dos pediatras) é a falta de infraestrutura e equipe multidisciplinar adequada. O atendimento pediátrico ficou, por muitos anos, concentrado apenas no Cais Campinas", explica Franscine Leão, presidente do Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego).

Consultas

Na atenção primária, a SMS consegue disponibilizar consultas com médicos pediatras. De acordo com a pasta, são ofertadas 6,4 mil vagas mensalmente para consultas ambulatoriais em diversas unidades de saúde da capital. A orientação da pasta é de que os pais e responsáveis façam o acompanhamento com especialistas de forma ambulatorial, já que dessa forma é possível fazer uma avaliação integral da saúde e desenvolvimento da criança, evitando possíveis agravamentos.

Conforme a SMS, em 2024 a taxa de vacância de consultas ambulatoriais em pediatria foi de 51%. O agendamento das consultas ambulatoriais (de rotina) em pediatria é realizado via WhatsApp pelo telefone (62) 3524-6305 ou pelo número 0800 646 1560 (para ligações com telefone fixo).

Ícone Mais Notícias
Esteja sempre atualizado sobre os principais acontecimentos