Uso de caneta emagrecedora requer atenção

Medicamentos são indicados para quem luta contra obesidade e sobrepeso. Sem orientação médica, remédios podem levar ao hospital
Por Jornal Daqui / O Popular
Data: 14/10/2024
Marília Zanier, endocrinologista, alerta sobre uso correto das canetas (Arquivo Pessoal)

O uso de canetas emagrecedoras se popularizou no Brasil. Esses medicamentos, inicialmente usados para o tratamento de diabetes tipo 2, tem como intuito aumentar a saciedade e reduzir a fome de quem luta contra a obesidade e o sobrepeso. Entretanto, a administração desses compostos requer cuidados e a falta de acompanhamento médico pode levar os usuários direto para o hospital. Ao POPULAR, especialistas apontaram recomendações e alertaram sobre os riscos potenciais.

Essas canetas são dispositivos que administram medicamentos por injeção subcutânea. Membro da atual diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Goiás (Sbem-GO), a endocrinologista Marília Zanier conta que quando se notou perda de peso em pacientes com diabetes tipo 2 que faziam o uso das canetas diariamente, passou-se a estudar e ampliar o uso delas, em doses maiores, para tratar a obesidade e o sobrepeso.

As diferentes canetas emagrecedoras disponíveis no mercado brasileiro fazem parte da classe de medicamentos análogos ao GLP-1 (hormônio do trato gastrointestinal que estimula a secreção de insulina). "Faz com que a nossa digestão fique mais lenta e possui um mecanismo no hipotálamo (cérebro) que reduz a fome", diz Marília.

Um dos medicamentos do tipo mais famosos é o ozempic, composto por semaglutida. Pela bula, o medicamento é recomendado para o tratamento de diabetes tipo 2. Entretanto, off label, ele é usado para perder peso. O ozempic é produzido pela empresa dinamarquesa Novo Nordisk, que também comercializa o wegovy, que tem o mesmo composto como base, mas é destinado especificamente para tratar a obesidade e o sobrepeso. Ambos são comercializados no Brasil. Uma caneta de ozempic custa em torno de R$ 1 mil.

Outro medicamento que tem conquistado vários usuários no Brasil é o mounjaro, produzido pela farmacêutica americana Eli Lilly. Ele é composto por tirzepatida. Isso significa que o medicamento tem a capacidade de estimular tanto a ação do GLP-1, quanto do GIP (outro hormônio do trato gastrointestinal). "Atua em duas fases. Além disso, pode reduzir as náuseas, que é um dos sintomas colaterais que mais incomodam os pacientes", frisa Marília. Apesar de ter o registro aprovado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o mounjauro não é comercializado no país. Isso significa que quem quer adquirir o medicamento, precisa importá-lo. O processo pode custar mais de R$ 5 mil por caneta.

No Brasil, é possível adquirir essas canetas emagrecedoras sem prescrição médica. A especialista em Clínica Médica e Endocrinologia do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia, Leandra Negretto, considera que seria importante que esses medicamentos só fossem comercializados mediante a apresentação de uma receita médica. "Estamos falando de medicações seguras, principalmente do ponto de vista cardiovascular, mas que também são potentes e não são inócuas", detalha.

Leandra esclarece que os pacientes que fazem o uso das canetas emagrecedoras não desenvolvem resistência aos medicamentos. "É que chega um momento em que o corpo não permite mais que a pessoa continue emagrecendo. Ela entra em um equilíbrio entre a oferta nutricional e o gasto energético."

Uso

Esses medicamentos foram considerados seguros para a perda de peso, pois apesar de atuarem na produção de insulina e na redução da glicose, não produzem quadros de hipoglicemia. Mesmo sendo seguros, não devem ser usados por todos. "Pessoas com doenças de vesícula, ou que possuem refluxo grave, por conta da digestão ficar mais lenta, ou que já tiveram pancreatite, precisam estar atentas", pondera Marília.

A utilização dessas canetas de forma indiscriminada pode causar até uma internação hospitalar. A administração delas sem supervisão médica pode fazer com que pacientes desenvolvam um quadro de vômitos constantes e até mesmo de desarranjos gastrointestinais que podem ocasionar desidratação grave. "A pessoa vai parar no hospital", reforça a diretora da Sbem-GO.

Segundo Marília, o médico deve ser o responsável por definir a dose adequada, a posologia (o modo de usar o medicamento), além de dar orientações sobre como guardar as canetas e sobre a maneira correta de trocar a agulha. "Caso a pessoa não saiba, ela pode ter problemas no local da injeção", frisa. Nesse sentido, ela ainda pontua que as canetas não devem ser compartilhadas. "Mesmo que a agulha seja trocada, não sabemos se vai refluir sangue."

Marília também enfatiza que a medicação nunca pode ser vista como a única resposta para o emagrecimento. "Não vai fazer milagre. Uma boa alimentação e um estilo de vida adequado são essenciais para que o paciente não perca, por exemplo, quantidades importantes de massa magra", alerta.

Uso de manipulados é visto como inseguro

A manipulação dos compostos presentes nas canetas emagrecedoras, como a semaglutida, tem avançado no Brasil. É possível encontrar farmácias de manipulação oferecendo "semaglutida manipulada" para combater a obesidade e o sobrepeso, por exemplo. O cenário causa preocupação entre a comunidade médica. "É possível ver até profissionais oferecendo para que a aplicação ocorra em clínicas. Não é seguro", explica Marília Zanier, endocrinologista e membro da atual diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Goiás (Sbem-GO).

A especialista em Clínica Médica e Endocrinologia do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia, Leandra Negretto, pontua que a patente da semaglutida (ozempic e wegovy) e da tirzepatida (monjauro) não caíram. Isso significa que todo produto com manipulação dessa molécula é inseguro.

A empresa dinamarquesa Novo Nordisk, que produz o ozempic e o wegovy, chegou a publicar um comunicado em seu site afirmando não vender ou autorizar o fornecimento de semaglutida a nenhuma farmácia de manipulação ou outra fabricante. A empresa é a única responsável pela fabricação da substância no mundo. Dessa forma, é considerado irregular qualquer importação, manipulação, fabricação e comercialização dos medicamentos e princípios ativos registrados pela companhia no Brasil que não estejam nas apresentações originais.

Vale destacar que nenhuma dessas canetas emagrecedoras está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Recentemente, durante a campanha eleitoral, o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), disse que vai distribuir o medicamento ozempic na rede pública de saúde. A declaração gerou burburinho por conta do preço elevado do medicamento.

Leandra lembra que o custo de tratar doenças associadas à obesidade pode sair mais caro para o poder público. "A obesidade é uma das doenças mais caras do mundo", provoca. Além disso, ela reforça que é importante levar em conta a qualidade de vida dos pacientes.

Por fim, Leandra diz que essas medicações também se mostram promissoras para outros tipos de tratamento, como de doenças renais e cardíacas. Por isso, ela recomenda que o uso seja feito mediante indicação.

O que você precisa saber

Confira as principais informações acerca das canetas emagrecedoras que viraram febre entre aqueles que querem perder peso

O QUE SÃO?

São uma classe de medicamentos análogos ao GLP-I (hormônio do trato gastrointestinal) utilizada no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade

OQUE FAZEM NO ORGANISMO?

Deixam a digestão mais lenta, o que aumenta a saciedade, e possuem um mecanismo no hipotálamo (cérebro) que reduz a fome. Apesar de atuarem na produção de insulina e na redução da glicose, são seguros quanto a quadros de hipoglicemia

PARA QUEM É INDICADO?

Indivíduos com diabetes tipo 2

Adultos com IMC igual ou maior que 30 Adultos com IMC igual ou maior que 27 na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso

EXISTE CONTRAINDICAÇÃO?

Pessoas com doenças de vesícula, refluxo grave e que já tiveram pancreatite grave precisam estar alertas em relação ao uso das canetas emagrecedoras

ATENÇÃO!

O consumo desses medicamentos na versão manipulada não é seguro. O princípio ativo utilizado para a produção deles ainda possui patente, ou seja, não existe uma versão genérica disponível no mercado

IMPORTANTE!

O uso das canetas emagrecedoras deve ser feito sob acompanhamento médico, que vai determinar a dose adequada para cada pessoa, além de estar associado a uma dieta equilibrada e exercícios físicos

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