
Entenda o que é a doença de Crohn, condição pouco conhecida que acomete o jornalista Evaristo Costa

Na última semana, o jornalista Evaristo Costa compartilhou um trecho de entrevista em que conta sobre o seu diagnóstico de doença de Crohn, inflamação crônica que atinge o sistema digestivo. Ele foi internado no início deste ano por complicações da doença, momento em que decidiu falar publicamente sobre a condição que descobriu em 2021. Evaristo chegou a perder 22 quilos em apenas três semanas, mas só procurou um médico quando não tinha mais forças "nem para sair da cama", segundo ele. "Não recebi nenhum diagnóstico de doença terminal, posso colocá-la em remissão e viver normalmente. Ainda não consegui, não encontramos o remédio certo para estabilizá-la (...), então ainda convivo com os sintomas", disse.
Os principais sintomas são a dor abdominal, geralmente na parte inferior direita, e a presença da diarreia crônica, às vezes associada a perda de sangue e muco nas fezes -- este foi destacado por Evaristo como o motivo para a maioria dos pacientes não revelar que convive com a doença, por medo do constrangimento. "A doença é caracterizada por uma inflamação do trato gastrointestinal que pode acometer qualquer uma de suas regiões, da boca até o ânus", explica Rafael Oliveira Ximenes, gastroenterologista e hepatologista do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia.
Trata-se de uma doença multifatorial e com característica autoimune - causada pelo próprio sistema de defesa do organismo - mas sem uma causa bem definida. "Sabemos que há influência de fatores genéticos e ambientais, incluindo alimentares, tabagismo e provavelmente bactérias e vírus presentes no trato gastrointestinal", diz. A região mais frequentemente envolvida é o íleo, o final do intestino delgado. Pacientes também apresentam perda de peso, inchaço do abdome e, em alguns casos, febre, aftas e saída de secreção na região próxima ao ânus. "Podem ocorrer ainda sintomas relacionados a outros órgãos, como dor e inflamação articular, olhos vermelhos e lesões de pele", aponta.
Dia a dia
Há cerca de dez anos, o fazendeiro Caio Prado Ribeiro do Valle, 35 anos, precisou ficar internado após uma crise de dor abdominal. A suspeita já era de Crohn pela localização da dor, que foi confirmada pelos exames. "Nunca tinha ouvido falar da doença, mas descobri que uma prima distante da família também tinha", conta. "Foi difícil lidar com a notícia de que você tem uma doença que não tem cura. Um dos médicos me perguntou qual era meu maior medo e eu disse que era de que a doença me destruísse, mudasse quem eu era. Ele falou que isso não ia acontecer, e ele estava certo. A gente se adapta", relata.
Caio destaca que consegue ter uma rotina tranquila. "Desde o meu diagnóstico, eu e minha mulher nos casamos, viajamos, tivemos filhos", conta. A doença exige que ele faça acompanhamento médico para avaliar a inflamação do intestino e se a doença está em remissão ou não, com exames periódicos de sangue, fezes, colonoscopia, entre outros. Ele já fez algumas trocas de medicação ao longo do tratamento e passou por uma cirurgia de retirada de parte do íleo.
Os sintomas que apresenta são na maior parte do tempo tranquilos, mas atualmente o seu quadro não é considerado "o melhor". "A doença não está em remissão e estamos trocando de remédio de novo, portanto tenho alguns receios. Mas eu não quero ser negativo, porque minha vida é muito boa. Quanto a possíveis cirurgias e dificuldades no futuro, o que tiver de ser será. O futuro a Deus pertence", diz.
O tratamento é baseado em medicamentos que controlam a inflamação no trato gastrointestinal provocada pelo sistema imunológico do paciente, explica Rafael Oliveira Ximenes. "Dentre os remédios utilizados, temos os corticoides, imunossupressores e mais recentemente os chamados biológicos, anticorpos que atuam em algum ponto da cascata de inflamação e possuem maior eficácia no controle dos casos moderados a graves da doença de Crohn", explica. Em alguns casos, podem ainda ser necessários procedimentos cirúrgicos e eventualmente endoscópicos, como aconteceu com Caio. "Além disso, uma equipe multiprofissional com nutricionista, psicólogo e outros também é de grande ajuda."
Diagnóstico
O estudo Tendências Temporais na Epidemiologia das Doenças Inflamatórias Intestinais no Sistema Público de Saúde no Brasil, publicado na revista The Lancet Regional Health -- Americas, aponta que a doença de Crohn cresce 12% ao ano no Brasil. Mesmo assim, a condição ainda é pouco conhecida pela população em geral.
Dados da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD) mostram que cerca de 12% dos pacientes demoraram mais de três anos para procurar um médico especialista, gastroenterologista ou coloproctologista. "Quanto antes a doença for descoberta, mais rapidamente poderá ser tratada e, com isso, garantir mais qualidade de vida ao paciente", destaca a presidente da Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite (GEDIIB), a gastroenterologista Cristina Flores.
A elaboração do diagnóstico final conta com a ajuda da história clínica e exame físico detalhado. "Uma vez que o paciente apresente sinais e sintomas sugestivos, segue-se com a realização de exames complementares", explica o médico coloproctologista Hélio Moreira, do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia, que destaca a colonoscopia como o exame padrão ouro para o diagnóstico da doença de Crohn. "Por meio dela é possível identificar áreas inflamadas do intestino e realizar biópsias desses segmentos, complementando assim o diagnóstico", diz.
A partir do resultado, é recomendável prosseguir na investigação de outras possíveis áreas de acometimento do trato digestivo, com a realização da endoscopia digestiva alta e exames de imagem para avaliação do intestino delgado. "É importante ressaltar que não temos nenhum exame de imagem, marcador sorológico ou mesmo histopatológico que sozinho determine o diagnóstico de doença de Crohn. É a análise conjunta que direciona para o diagnóstico, fundamental para distinguí-la de outras doenças inflamatórias do intestino", diz.
Fatores
Pessoas entre 15 e 40 anos são as principais acometidas pelas doenças inflamatórias intestinais, e homens e mulheres parecem ser afetados em igual proporção pela doença de Crohn. "A prevalência é maior nas populações urbanas e em países mais desenvolvidos, nos quais hábitos alimentares com alimentos processados, ricos em gordura de origem animal, e a falta de atividade física são bastante comuns", diz o coloproctologista Hélio Moreira.
Fatores genéticos também estão envolvidos. "Se uma pessoa tiver algum parente de primeiro grau com a doença (pais ou irmãos), as chances de desenvolver quadro semelhante são maiores", aponta. O tabagismo é um dos principais fatores de risco. "Pessoas com o diagnóstico e que persistem com o hábito de fumar tem um agravamento da atividade inflamatória e uma dificuldade muito maior de controle dos sintomas", comenta ele, que destaca indícios de que o uso de contraceptivos orais podem também elevar o risco da doença de Crohn, assim como o consumo excessivo de álcool.
Mais Notícias
Esteja sempre atualizado sobre os principais acontecimentos


INSS restituirá R$ 292,7 milhões a aposentados e pensionistas
Beneficiários prejudicados por descontos associativos não autorizados começarão a receber os valores neste mês Saiba mais
Mais imóveis são ofertados para o programa Minha Casa, Minha Vida
Criação de nova faixa deve beneficiar número maior de famílias Saiba mais