Por que mulheres ainda ganham 20,7% menos do que os homens
Mais uma vez o Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios mostrou a gritante disparidade salarial entre homens e mulheres no Brasil. O levantamento divulgado neste mês de setembro aponta que as mulheres ganham 20,7% a menos do que os homens. A pesquisa divulgada pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego (MTE), em Brasília, foi feita em 50.692 empresas com 100 ou mais empregados. O documento considera os dados informados pelos empregadores na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2023.
Quando comparado com o primeiro relatório divulgado em março deste ano, os dados mostram um aumento na diferença salarial, já que no documento anterior, a diferença era de 19,4% entre esses gêneros. Para o Ministério das Mulheres, o aumento é resultado dos novos empregos gerados em 2023, sendo 369.050 mil novos postos formais ocupados por homens e 316.751 mil ocupados por mulheres.
Em Goiás, as mulheres ganham 22,7% a menos do que os homens. Segundo o relatório, a remuneração média dos homens é de R$ 3.681,24, enquanto a das mulheres é de R$ 2.845,53. Ao todo, 1.428 empresas goianas participaram da pesquisa. Juntas, elas somam 477 mil pessoas empregadas.
Taís Helena Barreto, é psicóloga e trabalha na área de Recursos Humanos (RH). Ao comentar o assunto, ela deixa claro que este não é o tema que gostaria de discutir de forma negativa como os dados apresentam, mas afirma que o índice não pode ser ignorado.
A especialista ressalta que essa realidade reflete uma cultura organizacional enraizada que ainda acredita na incapacidade das mulheres de ocuparem posições de liderança e, consequentemente, de receberem salários justos.
Quando questionada sobre as causas dessa desigualdade, Taís aponta que, embora a sociedade tenha mudado, ainda persistem crenças que sustentam a discriminação. A predominância masculina em ambientes de gestão e liderança reforça essa ideia, mas esta não é a única razão para tal realidade.
Taís explica que a preocupação das empresas com os resultados econômicos é um fator crítico. Muitas organizações preferem ocupar cargos de liderança com homens, que supostamente não enfrentam as mesmas responsabilidades familiares que as mulheres, como licenças-maternidade ou atendimentos médicos a filhos. Essa lógica distorcida perpetua um ciclo de desigualdade e limita as oportunidades das mulheres, especialmente nas posições mais altas.
Apesar desse cenário desafiador, Taís acredita que há espaço para mudança. A discussão sobre a igualdade salarial já está sendo promovida por muitas empresas brasileiras, que estão se mobilizando para criar condições e benefícios que atendam às necessidades específicas das mulheres. Segundo ela, 38% das empresas estão tomando iniciativas nesse sentido, o que representa um avanço importante, ainda que modesto.
O governo também desempenha um papel relevante, tendo adotado uma legislação que exige que empresas que apresentem discrepâncias salariais criem um plano de ação em até 90 dias. “Se não for por amor, será pela dor”, afirma Taís, enfatizando que as empresas precisarão enfrentar essa responsabilidade.
O prazo para que empresas com 100 ou mais funcionários preenchessem o Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios de 2024, encerrou no último dia 30 de agosto. A Lei 14.611/2023 – Lei de Igualdade Salarial, estabelece critérios de remuneração entre mulheres e homens que executam o mesmo tipo de trabalho.
A ferramenta utilizada pelo governo federal serve para verificar se há casos de diferenças salariais por gênero nas empresas. A partir desse relatório, é possível ao poder público conhecer a realidade remuneratória dos trabalhadores nas empresas, bem como as políticas de incentivo à contratação e promoção na perspectiva de gênero.
Caso seja identificado algum tipo de discriminação salarial e de desigualdades nessas organizações, a legislação estabelece que um plano de ação deverá ser elaborado pela empresa infratora em até 90 dias, após o recebimento da primeira notificação.