Remineralizadores ganham incentivos e terão hub em Goiás

Programa do governo vai investir em práticas sustentáveis, com foco na recuperação do solo, maior eficiência e menor utilização de produtos químicos
Por O Popular
Data: 13/08/2024
Daniel Antunes, CEO da Tratto Agro: primeiro remineralizador de solos (Wildes Barbosa / O Popular)

Um dos produtos com potencial para atender a crescente demanda do agronegócio e da agricultura familiar por insumos agrícolas alternativos, que possam unir eficiência agronômica e sustentabilidade ambiental, com redução de custos, são os remineralizadores de solo. Para impulsionar as pesquisas, a produção e o uso deles na agropecuária goiana, o Governo de Goiás lançou nesta segunda-feira (12) o Programa Goiano de Remineralizadores (Prorem-GO), que investirá R$ 20 milhões em diversas ações até 2025, visando práticas mais sustentáveis na mineração e na agricultura. O estado também será o primeiro do País a contar com um Hub de Remineralizadores.

O anúncio do futuro hub foi feito, durante o evento, pelo assessor da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), José Carlos Polidoro. O centro do governo federal se especializará em sustentabilidade agroambiental e eficiência agronômica de fertilizantes, promovendo a pesquisa e utilização de remineralizadores, tecnologias e sistemas de produção sustentáveis.

Já as ações do Prorem-GO incluem a análise das áreas de produção mineral e os tipos de resíduos gerados, diagnóstico e mapeamento de laboratórios aptos para a caracterização mineralógica e estudos tecnológicos, além da validação da eficiência agronômica para registro no Mapa.

A iniciativa do programa é da Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços (SIC), com o apoio da Tratto Agro, primeira empresa do País a registrar um remineralizador no Mapa, e outros parceiros. O objetivo é unir esforços públicos e privados para a implementação de práticas sustentáveis na mineração e na agricultura, dentro dos objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas, e promovendo uma bioeconomia circular.

A coordenadora do Prorem-GO, Lívia Parreira, lembra que também são previstos estudos voltados para o sequestro de carbono, biointemperismo e monitoramento climático com o uso de remineralizadores, além de capacitação contínua e apoio a programas de pós-graduação.

Goiás já possui nove produtos registrados no Mapa e a proposta inicial inclui a avaliação de 65 potenciais produtos que poderão atender a todas as regiões goianas. "Estamos unindo esse programa às potencialidades de duas economias fortes em Goiás: mineração e agricultura. Assim como fomos pioneiros no programa goiano de bioinsumos, agora somos os pioneiros no lançamento do programa de remineralizadores", destaca Lívia Parreira.

Goiás foi o primeiro estado brasileiro a registrar no Mapa o remineralizador de solos para uso na agricultura. O pó de rocha foco da pesquisa pioneira foi o Fino de Micaxisto (FMX), da empresa goiana Tratto Agro. "Meu sócio notou que no local onde o pó de rocha estava sendo estocado começou a nascer vegetação em volta, o que nos impressionou. Até então, esse pó de rocha não era comercializado", relembra o CEO da empresa, Daniel Antunes. A empresa procurou a Embrapa Cerrados, que veio verificar o produto de perto. "Os resultados da análise mostraram que o pó continha potássio e micronutrientes, além de estar livre de contaminantes", conta o CEO.

Os estudos foram feitos entre 2009 e 2016, quando a empresa obteve o registro, e a comercialização começou em 2018, quando 100 mil toneladas do produto já foram vendidas. Ele começou sendo utilizado em lavouras de soja e milho e, em 2020 começaram os estudos para utilização na pecuária e produção de hortifrutis. "Agora, este programa nos dará maior visibilidade juntos aos produtores. É como uma chancela de que ele realmente funciona, ou seja, que tem garantia de resultados, pois ainda há resistência e dúvidas entre muitos agricultores, que há séculos usam apenas produtos químicos", acredita.

Multinutrientes

O principal benefício da remineralização seria a recuperação do solo, trazendo de volta os micronutrientes que foram destruídos com o uso de produtos químicos, o que resulta numa maior produtividade. O assessor técnico da Federação da Agricultura do Estado (Faeg), Leonardo Machado, lembra que o Brasil ainda depende muito da importação de fertilizantes para produzir e o uso de remineralizadores pode ajudar a reduzir esta dependência.

"Goiás já tem uma cultura de produção. Na região de Mineiros, temos estudos do uso do pó de rocha com observações empíricas, que mostraram sua eficiência", destaca Machado. Ele confirma que a aplicação constante dos remineralizadores pode reduzir o uso de fertilizantes e os custos, pois os minerais melhoram a fertilidade do solo.

A expectativa é que o uso do produto seja propagado entre os produtores. "Essa proposta reafirma o compromisso do Estado de Goiás com o desenvolvimento de soluções para reduzir o impacto ambiental e aumentar a eficiência e sustentabilidade do setor agrícola", ressalta o secretário estadual de Indústria, Comércio e Serviços, Joel de Sant'Anna Braga Filho.

Segundo ele, esses materiais, considerados multinutrientes, desempenham um papel vital na promoção da agricultura regenerativa e na preservação da segurança alimentar. O Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes e está na vanguarda da inovação na cadeia produtiva de remineralizadores de solos. "Goiás é o segundo maior produtor de insumos agrícolas sustentáveis do País, com 24% no mercado nacional", lembra.

Para o professor e pesquisador Éder Martins, da Embrapa, responsável pela pesquisa do primeiro remineralizador de solo a obter o registro no Mapa, o Prorem-GO tem um grande potencial de fortalecer uma rede de pesquisa com todas estas instituições e em conjunto com o governo e a iniciativa privada.

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