Seca deve aumentar doenças respiratórias em Goiás

Especialistas veem com preocupação cenário nos próximos meses, especialmente diante da baixa cobertura vacinal. Volta da coqueluche também preocupa Estado
Por O Popular
Data: 10/07/2024
Goiânia vista do Setor Alto da Glória, em meio a névoa seca: cenário característico desta época preocupa Saúde (Wildes Barbosa / O Popular)

Mesmo com uma tendência de queda de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) observada nas últimas semanas, especialistas apontam que a baixa umidade, combinada com a mudança brusca de temperatura, deve contribuir para um aumento de infecções durante este período mais seco em Goiás. Mas, além das síndromes virais, a volta da incidência da coqueluche, doença bacteriana de alta transmissibilidade, também tem sido motivo de preocupação para a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO). Já foram ao menos nove casos confirmados neste ano.

A tendência é apontada pelo painel InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base nos casos notificados em cada Estado. Outras dez unidades federativas também apresentam probabilidade de queda nos casos em longo prazo. A prevalência dos casos positivos em todo o País é maior para o vírus sincicial respiratório (VSR), seguido do Influenza A, Sars-Cov-2 (Covid-19) e Influenza B. Em Goiás, com base no painel da SES-GO, a maior parte dos casos notificados em que houve especificação foi motivado pelo Influenza A e pelo vírus da Covid. Já foram 4 mil casos registrados no Estado e 356 pacientes morreram.

Superintendente de Vigilância em Saúde (Suvisa), Flúvia Amorim aponta que em geral é observado um aumento de casos de SRAG no começo do ano e uma estabilização logo após maio e junho, tendo uma nova curva de alta no final do ano. Entretanto, o período de seca proporciona um acréscimo de registros. "É naturalmente nesta época que mesmo quem não tenha problema respiratório passe a ter. Nariz mais ressecado e mais dificuldade para respirar, devido à baixa umidade. Isso causa alguns machucados na mucosa do nariz e favorece a introdução de microrganismos e a transmissão de doenças respiratórias", explica.

Ainda conforme Flúvia, a baixa cobertura vacinal tanto para Influenza (gripe) como para Covid-19 também pode impactar com um cenário de maior transmissibilidade nos próximos anos. "Quando há altas coberturas vacinais, a gente vê interferência menor dessas doenças respiratórias infecciosas, como a influenza, por exemplo. Quando a gente vacina pouco, às vezes a repercussão não é nem nesse ano, mas no seguinte, porque o vírus vai estar circulando mais. E este ano a cobertura não está péssima", pondera.

O médico infectologista Marcelo Daher acrescenta ainda que, além da baixa umidade, a temperatura que varia de manhã, com frio, para a tarde, com calor, influencia na transmissão das infecções respiratórias diante dos costumes da população. "O cenário é muito bom para doenças respiratórias, porque tende a manter as janelas fechadas, má circulação do ar, pessoas mais próximas, por causa do frio. Isso facilita a transmissão por conta da baixa umidade." Ele diz que o aumento deve ser observado até o final de setembro, com o fim do período mais seco.

A médica infectologista Marília Turchi considera que, em todos os anos, a época seca consideravelmente aumenta os casos de doenças respiratórias, mas neste ano a situação foi mais acelerada pela alta taxa de incidência da Influenza A no início do ano. Conforme ela, o cenário é resultado de um movimento antivacina que se acentuou nos últimos anos. "Sem dúvida, é uma preocupação a baixa cobertura vacinal para todas as doenças. Já tivemos (altas taxas), mas desde 2016 tem sido detectada essa diminuição para várias doenças, não apenas respiratórias, mas diversas doenças que poderiam ser prevenidas mediante vacina."

Cenário nacional

Na última quinta-feira (4), a Fiocruz divulgou o boletim do InfoGripe referente ao período de 23 a 29 de junho. O documento aponta que nove Estados apresentam tendência de aumento SRAG em longo prazo: Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Sul, Roraima e São Paulo. O indicador aponta que houve aumento de casos nas últimas seis semanas nas respectivas unidades federativas. O País já contabilizou mais de 40 mil casos positivos neste ano.

Estado tem preocupação com coqueluche

O último ano em que Goiás apresentou um número mais elevado de casos confirmados de coqueluche foi em 2019, quando o Estado teve 31 ocorrências. De lá até 2022, o total em cada ano não passava de 5. Já no ano passado, nenhum caso foi registrado. Agora, em 2024, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) já estima nove pacientes com a infecção respiratória bacteriana e de alta transmissibilidade. Titular da Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa), Flúvia Amorim aponta que foram dois surtos, sendo um em uma escola de Goiânia e outro numa família moradora do Entorno do Distrito Federal.

No final do mês passado, a pasta emitiu alerta para a baixa cobertura vacinal, que faz parte da rotina de vacinação das crianças, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). A preocupação é diante do cenário global, em que países da Europa e da Ásia têm registrado surtos da doença. O Centro Europeu de Controle e Prevenção das Doenças (ECDC) aponta que nos três primeiros meses deste ano a União Europeia teve mais de 32 mil casos, em 17 países. No ano passado, foram cerca de 25 mil. No Brasil, até o início de junho, foram registrados 115 casos. Em todo o ano de 2023, foram 217.

"É uma doença respiratória que tem vacina. Então, a gente emite alerta de que precisa melhorar a cobertura vacinal para evitar surtos, principalmente na volta às aulas. É mais transmissível em crianças, e muito perigosa em crianças menores de 1 ano. A cobertura da vacina era boa, então acontecia muito esporadicamente, estava sob controle. E com as pessoas deixando de se vacinar, ela (coqueluche) está voltando. É isso que a gente está vendo hoje", comenta. A taxa da cobertura vacinal deveria ser de 95%, mas, conforme Flúvia, o Estado tem alcançado apenas 76%.

A médica infectologista Marília Turchi acrescenta ainda que a vacinação é a forma de prevenção mais eficaz contra a doença, considerada grave para menores de seis meses. Ela aponta que as crianças devem seguir o esquema vacinal, além de gestantes e profissionais de saúde. Todos possuem acesso pela rede pública de saúde. "É um absurdo (o aumento), porque a vacina tem proteção muito boa. Agora a bactéria está circulando e fácil de ser transmitida pessoa a pessoa."

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