Mulheres que menstruam e são assistidas pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) e Ouvidoria da Mulher da Câmara Municipal de Goiânia passam a contar com mais 15 mil absorventes íntimos. Os pacotes foram doados às instituições nesta segunda-feira (22). A arrecadação aconteceu durante o Sebrae Delas (Desenvolvendo Empreendedoras Líderes Apaixonadas pelo Sucesso), iniciativa de profissionalização e impulsionamento feminino.

Em parceria com o POPULAR, o Sebrae Delas levou 25 empresárias para exposição de produtos e serviços no Shopping Cerrado. E com cerca de 3 mil participantes, que puderam passar pela entrada solidária, cada um arrecadou mais de 7,5 mil absorventes para distribuição.

A gestora do programa, Patrícia Santiago, diz ter tido um retorno satisfatório por parte das mulheres participantes, “garantindo que o Sebrae consiga entender o seu público-alvo e possa traçar estratégias que atendam não só empreendedoras, como outras mulheres que estão na base”. Método esse que passa o olhar pela localização, identidade e prioridades das mulheres goianas, o que pôde levar em consideração, nesse momento, necessidades básicas, como é o caso da dignidade menstrual.

“É uma discussão legal sobre o direito à vida pública das mulheres e das respostas que lhes garantam o respeito a esse momento”, pontua a professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (FD/UFG), Franciele Silva ao POPULAR. Como parte do acesso a esse direito, a distribuição dos absorventes aparece à professora como uma das políticas públicas mais comuns para tratamento da desigualdade menstrual. Sendo uma ação importante para garantir a higiene pessoal, a possibilidade de uso e troca do insumo “o que é fundamental para evitar infecções de natureza fúngica ou bacteriana”.

A pobreza menstrual além de “ser, antes de mais nada, um problema de saúde”, atravessa diversas áreas da vida das pessoas que menstruam, levando, conforme Franciele, à um momento de martírio. A falta de condições de acesso fazem, por exemplo, com que atividades escolares e de trabalho sejam impedidas de serem realizadas. Há também muitas pessoas que “tentam improvisar soluções estando longe de casa, usando tecidos, toalhas, retalhos”, conta. O impasse quanto a essa necessidade básica “levam a problemas muito graves de autoestima”.

Apesar de ser item básico do dia para algumas, segundo a coordenadora da Ouvidoria da Mulher na Câmara Municipal, Maria Clara Dunck, “a doação de um absorvente é algo que as mulheres precisam, muitas vezes, para ir atrás dos seus direitos”. A perspectiva vem do encontro com pessoas que buscam ajuda no órgão e, por vezes, chegam “apenas com um documento em uma sacola plástica”. Viabilizar o insumo, portanto, faz parte da estratégia do espaço em garantir mais um caminho para que pessoas em situação de vulnerabilidade sigam em buscam de justiça social.

As arrecadações distribuídas à Ouvidoria da Mulher estarão disponíveis na Butique Solidária Giselle Evangelista, no Mega Moda Shopping. O espaço, que já atendeu 555 pessoas, é destinado ao acolhimento de mulheres vítimas de violência e em situação de vulnerabilidade social que precisam, por exemplo, de roupas, calçados e itens de higiene pessoal.

Com o recebimento também de 50% das arrecadações, a OVG destinará os absorventes a 22 entidades que atendem mulheres portadores de HIV, em tratamento contra dependência química e adolescentes institucionalizadas. Segundo a diretora de planejamento e gestão da organização, Janine Almeida, há dois anos a pauta passou a integrar os benefícios da OVG e do Goiás Social. Cerca de 41 mil pacotes já foram distribuídos, sendo cerca de 2 mil por mês.