Em defesa, Jorge Caiado cita supostos desafetos de Escobar

Réu no assassinato do empresário de Anápolis aponta ocorrência sobre violência doméstica e acusa coronéis de darem “opiniões mentirosas”
Por Jornal Daqui / O Popular
Data: 03/05/2024
Jorge Caiado: defesa faz críticas a promotores do caso e diz que depoimentos de coronéis são “vazios e colhidos às pressas” (Wildes Barbosa / O Popular)

Em resposta à acusação no processo sobre o assassinato do empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante, em junho de 2021, em Anápolis, o réu Jorge Caiado, assessor da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), lista dez nomes de supostos desafetos da vítima e diz que ele tinha amantes, inclusive casada, dívidas de jogatina e registro de ocorrência por violência doméstica. Jorge também acusou os dois coronéis ouvidos no inquérito de darem “opiniões mentirosas, declarações caluniosas” e “visivelmente carregados de rancor e ressentimentos”.

A defesa de Jorge foi reforçada pelos advogados Thales José Jayme, vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás, e Rodrigo Lustosa Victor, presidente da Escola Superior de Advocacia (ESA) da OAB-GO, ao lado de outros seis nomes. Até então ele era representado pelo advogado Luiz Inácio Medeiros Barbosa, que segue no caso.

No documento, encaminhado ao juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Anápolis, a defesa dos réus também faz críticas aos promotores do caso e diz que os dois depoimentos são “vazios e colhidos às pressas”, além de insuficientes para comprovar participação de Jorge no crime. Segundo a defesa, trata-se de uma “linha de investigação açodada”.

O Ministério Público Estadual (MP-GO) denunciou o assessor da Alego em 19 de março, tendo como embasamento principal os depoimentos dos coronéis Newton Nery Castilho, ex-chefe da Casa Militar, e Benito Franco, ex-comandante da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitana (Rotam). Ambos ocuparam os cargos no primeiro governo de Ronaldo Caiado (UB).

A denúncia aponta que Jorge usou o “prestígio na Secretaria de Segurança Pública de Goiás e a proximidade com policiais militares” para ajudar o ex-auxiliar do governo estadual e ex-presidente do DEM (hoje UB) de Anápolis Carlos César Savastano de Toledo - conhecido como Cacai, denunciado como mandante do crime -, a planejar a morte de Escobar. Cacai é alvo de pedido de prisão e está foragido há quase seis meses.

Além dos dois, foram denunciados três policiais militares acusados de participação no crime, presos desde setembro do ano passado: Glauko Olívio de Oliveira, Thiago Marcelino Machado e Érick Pereira da Silva. O suposto executor seria o policial Welton da Silva Vieiga, morto em janeiro do ano passado.

Os coronéis relataram ter recebido visitas de Jorge e Cacai, com pedidos para eliminar Escobar.

A defesa de Jorge afirma que não há comprovação de ligação dele com os policiais presos e pede o levantamento dos processos administrativos de promoções dos PMs. Isso porque a denúncia aponta que os policias que participaram do crime e de outras mortes supostamente correlatas - sete em investigação - receberam promessas e foram contemplados com ascensão na carreira militar, sobre as quais Jorge teria influência.

O auxiliar da Alego cita que a “própria defesa dos militares supostamente envolvidos” sustenta que não há ligação dele com o caso. “Eles (os PMs) não mencionaram em qualquer momento o nome do denunciado, o que leva a conclusão que trata-se de meras conjecturas que não servem para embasar a alegada justa causa da acusação”, diz.

A defesa do réu também pede o levantamento dos processos administrativos dos dois coronéis depoentes, “em razão do debate quanto a idoneidade das testemunhas”.

“É curioso que dois depoimentos isolados foram capazes de desmoralizar e descredibilizar um trabalho de mais de dois anos da Polícia Civil. É mais curioso ainda que ambos os coronéis, ao supostamente, estarem diante de um fato tido como criminoso, não terem tomado providências”, diz, referindo ao inquérito da Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), finalizado em dia 24 de novembro, com indiciamento apenas de Cacai como autor intelectual.

“Ao não conseguirem posições de destaque no seio da corporação da Polícia Militar ou do Governo de Goiás, do qual saíram ‘pelas portas dos fundos’, insurgiram-se contra o governo, motivo que explica suas condutas revanchistas”, diz a defesa sobre os coronéis, para completar: “Com a intenção de sair de um status de falta de autoridade junto aos seus, tentam criar uma narrativa na qual seriam heróis, mesmo que para isso sacrificassem a vida de um homem íntegro”.

A peça diz ainda que Jorge é “conhecido por sua idoneidade moral, reputação ilibada e respeitabilidade em seu ciclo social, servindo como exemplo para várias pessoas”. Afirma que ele procurou os coronéis da PM em 2019 “em busca de ajuda e orientação, procurando unicamente os meios legais” e que nunca sugeriu a Cacai “desviar-se do que era correto”.

Ao apontar os nomes dos possíveis desafetos de Fábio Escobar, a defesa de Jorge alega que “a conduta social da vítima sugere diversos possíveis interessados na ofensa a sua integridade física”. Diz ainda que solicitou aos investigadores que apurassem “os verdadeiros autores intelectuais e executores, todavia, nenhuma providência foi adotada”.

De acordo com as investigações da Draco e do MP-GO, o motivo do assassinato seriam as desavenças entre Escobar e Cacai, que trabalharam juntos na campanha do governador Ronaldo Caiado em Anápolis, em 2018. “Após o término das eleições, Fábio Escobar, inconformado com o descumprimento da proposta de cargo feita por Cacai, passou a divulgar nas redes sociais e imprensa local notícias de condutas reprováveis envolvendo Cacai. Por sua vez, o denunciado Carlos Toledo revoltou-se com as acusações lançadas por Escobar, manifestando, frequentemente, a pessoas próximas, seu desejo ativo por vingança”, diz a denúncia.

“Surpresa”

Na resposta à acusação apresentada pelos três PMs acusados da morte de Escobar, a advogada Rosângela Magalhães de Almeida diz que eles foram “surpreendidos com a informação divulgada pela mídia de que teria havido um aditamento à denúncia, para incluir no polo passivo Jorge Caiado”

Segundo a defesa dos PMs, “não há nada concreto que indique possível envolvimento dos denunciados com Cacai ou Jorge”.

A advogada adota a mesma linha da defesa do auxiliar da Alego, afirmando que havia muitos interessados na morte de Escobar. “Era uma pessoa explosiva e complicada, que agia impulsivamente e, por isso, colecionava desafetos e até mesmo inimigos, o que foi relatado por diversas testemunhas, havendo, assim, várias pessoas que poderiam desejar a sua morte e que poderiam estar envolvidas com o seu homicídio. Ademais, tem histórico de envolvimento com drogas, com rixas e agressões, com apostas e dívidas de jogo, bem como com relacionamentos extraconjugais com mulheres casadas, sendo que o próprio Fábio já havia relatado expressamente ter medo do marido de uma delas”, diz.

Os PMs também contestam a ligação da morte de Escobar com outros sete assassinatos em suposta tentativa de queima de arquivo, falam em negligência na investigação e fragilidade de elementos, além de acusar acesso ao celular da vítima após a morte, “com grande probabilidade de que tenha havido alteração do seu conteúdo a fim de esconder o verdadeiro culpado pelo delito praticado”.

Segundo a defesa dos PMs, as outras mortes investigadas ocorreram em reação da polícia, quando “indivíduos em atitudes suspeitas se recusaram a se submeter a abordagem policial e iniciaram confrontos”. Diz ainda que a falsa vinculação entre as oito mortes “decorreu da palavra de um indivíduo faccionado, Carlos Eduardo Rodrigues da Silva, que era, a princípio, suspeito de estar envolvido com a morte de Escobar”.

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